15.2.14

Eu andei pelos jardins arrastando as mãos pela relva. A lua rosa bebia o dia direto da boca do sol...
(Uma coisa e outra que nunca se toca mas perduram num beijo imaginário.)
As vezes eu olho pra mim e penso que meu coração é só um holograma.

2.2.14

Minha sorte foi que o dia seguinte começou numa nuvem vermelha que faz a garganta engasgar e o vento gelado das cinco da manha entrar pelos poros como um suor ao avesso que limpa o mundo pra dentro da gente e deixa um pouco dele lá mesmo e, por conseguinte, um pouco menos do nosso ego é capaz de dar as coordenadas naquele exato momento de 5:01am.
Na minha cabeça eu consegui ver com clareza um zepelim que partia de uma realidade forte para um momento-absurdo no espaço tempo, eu vi ele se mover e aí não fazer mais sentido.
Minha barriga ardia de não ter nada dentro e o meu coração mais ainda: não tinha nada mais lá há tanto tempo..
Uma criança largada girava um pirocóptero feito de folhas que não deu muito certo e acabou caindo numa poça e depois disso o pequeno se agachava e abraçava os joelhinhos sujos num ato heróico de auto-solidariedade.
Foi aí que eu disse: eu não quero mais nada, vida! eu não quero...
Mas a vida, mesmo assim, de repente me deu o vermelho das nuvens  virando um rosa suave e morno que mais parecia um abraço, e eu ajoelhei do lado do moleque e abracei os meus joelhos também e entendi tudo... e aí o zepelim já não estava mais no céu da minha cabeça - por alguns minutos, só um pouco mais...
(E "só um pouco mais" é o suficiente para ser pra sempre se a gente souber repetir direitinho.)