15.7.13

As mágoas sedimentaram e ficaram quebradiças e a gente não sabe porque a gente nunca mais (nunca mais) vai encostar nelas de novo. A gente falou pra gente que as mágoas são passado. É passado. A getne não é muito convincente. Às vezes a porta entre meu escritório e a rua fica escancarada e eu vejo o sol atacando o cimento e ele é tudo o que eu quero pra mim, mas só que vai ter que esperar. Pra meio-dia ainda faltam umas horas. Eu não consegui ainda - entre espinhos, nuvens, porradas e apertos - descobrir o nome da sensação. Um gelo em chamas com grandes poderes de sucção entrou algum dia (ou nasceu) entre as minhas costelas (um pouco mais acima) e talvez isso seja eu, ou talvez não. Eu queria que o passado fosse tão invisível quanto o futuro. Eu me vesti de corvo, eu me vesti de águia, eu me vesti de pardal, eu me vesti de tangará-desmarestis (uau!).. E eu nunca consegui fingir bater asas e por isso ninguém acreditou. Não encontrei aquilo me pediram pra eu encontrar, porque esqueci o que era no meio do caminho. Puxa, eu tinha tantas coisas a dizer mas uma cerca espetada me trava o pensamento e eu continuo a frase num murmurro tão baixo que nem eu posso escutar. A gente não pode dizer as coisas que a gente quer, seja por uma razão ou por outra. E isso me deixa puta. A gente nunca mais vai tocar as mágoas de novo, nem pra ver se estão vivas, a gente jura.

1.7.13

Madrugário (número X)

A cor de céu pela manhã seguinte era rosa e azul - mais pra rosa que pra azul - mas antes disso ninguém acreditaria que iria ser assim.
Esse cheiro esquisito vinha de mim? Eu acho que guardei da madrugada, como quem guarda um gole de bebida debaixo da língua pra sentir arder por mais tempo e nem sabe bem por que, ou, mais pateticamente, como quem guarda a casca dura do queijo devolta na geladeira porque não sabe se se classifica como lixo ou comida.

Eu apaguei todas as luzes da casa ontem a noite, que era pra me vingar da madrugada - que também apagou as minhas. Afinal, um lampejo (apesar de ficar na memória) nunca é o suficiente pra iluminar 12 horas completas de apreensão.
Bichinho-verme sem olho que mata monstro, monstro que mata a gente. - foi esse o sonho.
Nós estamos na base da cadeia alimentar.... 
Se a gente fechasse os olhos o nosso cheiro desaparecia e nem o bicho e nem o monstro podiam achar a gente...
Mas aí de repente a gente ficava parecido demais com o Grande Predador (sorrateiro, rastejante!)...
E aí o estômago revirava pior, porque a gente não tinha dente pra mastigar carapaça de monstro e nem nada...
A gente quer ser cego ou a gente quer partir?

Eu acordei e tudo o que eu sabia era que eu queria saber mais sobre o movimento do mar e dessaber o resto todo. Sim! E dessaber o resto todo...