30.8.11

Astronômica I


E sobre o horóscopo, se é realmente isso que te interessa, me deixa te dizer uma coisa: da Lua cheia, fui só o perímetro.
Entende isso?
E quem me visse tão de baixo assim até que podia achar mesmo qualquer coisa sobre a minha completude.
Você, eu sei, achava várias coisas sobre ela.
Eu fui pura contradição, fui mais repleta quando nova que quando cheia, mas só eu soube disso e foi preciso ser devorada pelas trevas de uma noite totalmente desestrelada para que eu aprendesse que é do próprio brilho que vem a inteireza e não de coisas abstratas envolvendo galaxias outras.
Que é do próprio brilho, não de nada além disso.
E tá tudo certo agora, eu me sinto bem, só é chato que uma parte de mim não consiga esquecer o fator "Sol" e tudo o mais que vem subentendido nisso.

29.8.11

Aviária I

Tipo o ovo que não chocou no meio da festa dos pintinhos, eu me sento numa cadeira ao canto com aquela delicadeza brusca de um revoltado que sabe que a causa da revolta não procede.
Tipo a bomba relógio que não explodiu, o ovo-que-era-para-ser-pintinho só marca as horas e vê elas passando e faz as contas pra ver quantas ainda hão de passar enquanto os pintinhos festejam não se sabe bem o que - provavelmente o fato de serem pintinhos.
Ser pintinho não é tão glorioso assim quanto parece, que o que é que o pintinho faz afinal?
Pintinho pia, pintinho cisca, pintinho tem pena.
Pena de quê? Que pena? Como assim "pena"? Pena do ovo?
Pára, ovo... pára! Pára que não é dessa pena que eu to falando, não!
Mas como explicar pro ovo como é que são as penas dos pintinhos? Ovo não é pintinho, ovo não sabe o que é pena. Não vê pena, não toca pena, não sente a pena.
O ovo faz as contas e queria que faltasse menos horas pra festa dos pintinhos terminar, que ele tá cansado de sacolejar no próprio eixo pra fingir que sabe interagir.
E ainda sobre as penas: tipo o ovo que queria ter pena também mas só tem casca dura suja de terra, eu me levando devagar e boto um pé na frente do outro fingindo uma porção de coisas! Como se os pintinhos piadores realmente percebessem o que é que o ovo finge ou o que é que é realmente a verdade sobre ovo, lá dentro.
Tem casca grossa entre o que há dentro do ovo e o mundo das piadas dos pintinhos.
E o ovo até ri, o ovo até ri. Nas o ovo não entende a piada, o ovo não escuta a piada, o ovo tem casca! O ovo não é pintinho... o ovo deveria ser pintinho, mas o ovo deu errado. O ovo é só ovo e sua carapaça dura e inconveniente e a promessa de que um dia vai virar qualquer coisa melhor que aquilo que é agora.

27.8.11

Sob(re) o Sol

Você as vezes se expõe demais pro sol.. você se expõe demais. É isso.
Ao fim do dia tua pele é puro descarne, teus olhos ardem marejados de lágrimas imaginárias - já que as verdadeiras o sol levou como se fossem nuvens. Puft, evaporaram-se.
teus lábios padecem em secura, e assim sua garganta.

Você não se poupou, foi por isso que ele não poupou você.

Você, cheio de amargura, corta relações com a estrela e se promete só voltar a vê-la quando ela vier até você primeiro, com um pedido formal (mas sincero) de perdão.
Mas, ora, você! O sol não fala... o sol não gesticula! O sol sequer sabe o que é arrependimento, o que é perdão... O sol não pode te dar um abraço apertado, porque o sol não tem braços.
O sol não tem mão pra te fazer carinho.


Você pensa: mas o calor me basta!



Basta? Basta mesmo? Jura que basta?
Eu não acho que basta.

Você se revira inteiro, noite a fora, sob o lençol púrpura enquanto a lua brilha alta no zênite.
Você a observa pela janela descrevendo um arco perfeito no céu e, puxa, você nunca se deu conta que a lua também faz arcos! Você sempre pensou demais no sol, você ainda pensa demais no sol bem agora enquanto a outra some enciumada por trás dos prédios amontoados da cidade grande.

Amanhece e você abre as cortinas completamente, e você ergue os vidros da janela.
Mas o sol não vem! Ele está lá, você pode sentir o cheiro do calor, mas ele não vem.

Aí você pensa que ele está envergonhado da desfeita do dia anterior, dos maus-tratos, da sua pele descascante. Por isso você dobra o orgulho e enfia debaixo do colchão, por isso você desce as escadas e aterriza no quintal.
O sol brilha com toda a normalidade sobre você, como o faria em qualquer ocasião.
O sol brilha com toda a normalidade sobre a grama, as roupas no varal, a caixa d`água.
Daí é que você percebe, finalmente, que pro sol não faz diferença se você sente dor ou não.
Que a briga de ontem foi briga de um só.

21.8.11

Leporídea III

Corre coelho, corre coelho!
Agora que pôs o focinho crepitante pra fora, corre, coelho, corre!
Corre senão leva chumbo, coelho, chumbo grosso!
Corre, coelho, senão vai virar ensopadinho ou, na melhor das hipóteses (será melhor mesmo?), vira bichinho de estimação de menina mimada, preso em gaiolinha de ferro até focinho parar de crepitar.
Estica essas pernas e corre de uma vez, pelo amor de deus, coelho, corre!

20.8.11


"Nothing's gonna change my world"

Pena é que não são as coisas que tentam mudar o nosso mundo... é o nosso mundo que teima em mudar todas as coisas ao seu agrado.
E quando a gente vai ver já era tudo, só restou a ideologia se agarrando ao chão brincando de ser fortaleza, que é o único jeito de não se deprimir com o fato de que todo mundo é um isolado e perpétuo apenas "my world".

16.8.11

Sobre as bonecas e manuseio inadequado

Uma de louça, uma de pano, uma Barbie, uma de vinil grande e feia - todas dentro da caixa de papelão que você esconde debaixo da cama.
A de louça tem uma baita rachadura na lateral da cabeça e a de vinil perdeu um olho.
Essas duas você já não pega faz tempo, acho que você se esqueceu delas.
A Barbie, já sem roupa, se esparrama sobre a de pano numa posição bem pouco ortodoxa e mantém aquele sorriso tosco rosa-shock, como se não pudesse perceber seu próprio fracasso.
De certa forma foi ela que te rejeitou - você nunca soube brincar com ela - e é por isso que essa nunca irá para o lixo, porque não se joga fora aquilo que jogou a gente fora antes! É uma questão meramente prática.
A de pano permanece surrada e não lá muito bonita de se ver e não lá muito cheia de modernidades, mas ainda intacta (ainda).
Essa sou eu e essa você ainda pega de vez em quando porque afinal de contas é a mais nova de todas e há de se fazer juz ao dinheiro gasto por pelo menos mais uns meses, não é mesmo?
Pois se ela fosse uma boneca falante, eu não me surpreenderia se você apertasse a barriga dela e te atingisse em cheio nos ouvidos algo meio assim: "Você pode até me jogar fora, mas não pode me quebrar nem com muita porrada. Touché! :)"


13.8.11

Sobre quem fica de fora

Um círculo de pessoas dando as mãos a coisas (televisões, discos de vinil, carros importados e camisetas da Frida) e as coisas dando as mãos a outras pessoas.
Algumas pessoas dão as mãos diretamente a pessoas.
Algumas coisas dão as mãos diretamente a coisas.
Estrelas, espaço-naves, raios gama, detonadores, a Mãe Física, a Mãe Química, e a tal da Teoria da Evolução.
Cinematica, gravidade, termodinâmica, bosón de Higgs, LHC, uma bomba, uma grande descoberta.
O universo inteiro é uma corrente de átomos de tudo quanto é raio de elemento organizados em tudo quanto é raio de organização possível.
O universo inteiro é uma gincana, um "caça ao tesouro", um "lencinho está na mão", pato-cinza, pique-esconde, menino-pega-menina (ou menina-pega-menino - e porque não menino-pega-menino também?).
O universo é uma rodada de War.
A ciranda gira, cada vez mais rápido, e os corpos se espremem tanto na ânsia de se locomover que praticamente se fundem.
Metástases de novas coisas salpicam na tua frente, se materializando da comunhão dos filhos do universo.
E o universo parece cantar uma cantiga de ninar para a sua prole maquinada, como se ela dependesse disso pra continuar girando.
Você se precipita para a frente mas recua.
Uma gota de suor alcança a sua têmpora latejante.
Uma nova tentativa e um cone sinalizador atravessa o seu caminho.
Não há espaço para você nesse jogo.
Você passou os últimos vinte e um anos - desde que saiu de uma barriga que andava girando por alí mesmo em meio a trovoadas e chuvas de granizo - tentando dar as mãos.
Você queria dar as mãos a tantas coisas!
A tantos "alguéns", tantos "aondes", tanto tudo!
Você queria sentir o toque de uma estrela cadente, de um urso polar.
Aí você cresceu e ficou com medo dos ursos e você descobriu que estrelas cadentes na verdade são cometas.
Você cresceu e tudo o que você queria então era dar as mãos com uma pessoa boa de prosa, um velho, um jovem, um mendigo, um ricaço, um zé-ninguém.
Mas as pessoas tinham coisas (e outras pessoas) demais nas mãos.
Assim, você decidiu parar de querer escolher, você decidiu que era hora de ser escolhido: se atirou pra frente, com os braços esticados e os olhos fechados torcendo pra roleta cósmica te favorecer.
Nessa hora passou um gato e miou que a brincadeira "gato-mia" tinha sido no verão passado e que no novo jogo não havia espaço pra gente que não podia ver.
Quando você conseguiu abrir os olhos você achou que a brincadeira tivesse mudado de novo e agora se tratava do "pique-esconde", porque você olhou, olhou e olhou e não viu coisa nenhuma do mesmo jeito.
Você ficou sozinho muito tempo, e quando conseguiu distinguir a roda girando a quilômetros de distância você saiu correndo e decidiu que não deixaria ela escapar.
É esse você que agora se encontra com ela bem debaixo do teu nariz, minusculamente reduzível a um rascunho tosco de texto qualquer e ao mesmo tempo tão grande que a Muralha da China ficaria com vergonha.
Você tenta se espremer entre um corpo e outro, você tenta perguntar por que é que tudo gira e você aí tão parado que não sabe o que é esquerda e o que é direita.
Você tenta descobrir por que é que tudo sempre funciona, porque é que tudo tem um lugar pra estar, por que é que você não.
Você quer saber, de uma vez por todas, por que é que toda vez que você respira o ar do universo você se sente tomando algo que não te pertence - um ladrão, um intruso, um penetra.
E você quer saber como é que se faz pra aprender o idioma do universo, porque você sabe que ele está cantando e que todo mundo está entendo (todo mundo sempre entendeu) mas você não faz a menor ideia do que se trata e talvez seja por isso que seu corpo todo colapsa e seus pés não te obedecem quando você diz pra eles que quer dançar também.


11.8.11

Do Moço e da Moça IX

O sujeito nunca iria entender que é que se passava na cabeça da garota.
O sujeito não entendia era patavinas daquele comportamento pendular, curiosamente estático no fato de ser invariavelmente variante.
Ele corria atrás dela no parque decorando o movimento de cada fio de cabelo que se içava com o vento cada vez que ela se precipitava adiante.
Quando ela se virava para trás ela não o via, via apenas a própria sombra e daí se sentia tremendamente iludida.
"Ô nuvens! Apareçam de uma vez e me tirem as dúvidas!" - que é só no escuro que a gente realmente pode ver.
E ele continuava correndo atrás, a largas passadas... que por mais longas que fossem suas pernas ela estava sempre um passo à frente. E aí, como é que faz?
Cada vez que os olhos de diamante (à la "Lúcia No Firmamento") se voltavam perscrutadores era uma descarga elétrica que lhe atravessava o corpo, como um enorme orgasmo de compreensões variadas sobre o mundo, sobre a vida, sobre ele mesmo, sobre flores, vasos, tapetes, espiritualidade e coisa e tal - tudo, menos sobre ela.
ô minha lagoa, minha lagoa...
me alagoa?

10.8.11

Sobre o (des)movimento das nuvens

Daí cê sente um troço esquisito batendo na tua cabeça e daí cê passa a mão e tira: um insetinho.
Cê passa as próximas duas horas vendo como é tola a vida do insetinho, andando de cá pra lá, de lá pra cá... e aí volta tudo de novo - ele age como se soubesse pra onde tá indo.
Cê fica pensando quantos centímetro tem o raio de visão do minúsculo artrópode esverdado, cê fica pensando que o coitado se soubesse o quê é que tem ao redor - absolutamente nada de interessante - já teria destravado as asas e ido embora.
Daí cê fica pensando também quantos metros tem o seu próprio raio de visão, cê fica pensando que alí nas suas proximidades não deve ter é mesmo nada de bom também, e que se cê tivesse umas asas... ah! se cê tivesse umas asas!
Mas cê não tem... e uma gota gorda escorre pelo vidro embaçado do trem e cê se satisfaz que ela cumpriu o papel que sua lágrima cumpriria se cê tivesse coragem de se livrar da carapaça e chorar em público.

9.8.11

Leporídea II

Coelho se sente acuado hoje de novo.
Coelho descobriu que não sabe ser coelho...
Coelho tem dentes, coelho tem orelhas, coelho tem patas longas.
Mas coelho não sabe balançar o focinho, coelho nem gosta de cenoura!
Coelho queria ser pedra, mas coelho não é pedra.
Coelho descobriu isso quando se posicionou timidamente entre duas lascas avantajadas de calcário e tentou puxar um papo.
Mas calcário não puxa papo, calcário não sabe verboar.
Calcário não sabe de nada... nem sabe e nem des-sabe.
Coelho não é calcário nenhum e nem é nenhuma outra pedra que seja.
Coelho é coelho.
Mas agora coelho entendeu que, por mais que o sr. fazendeiro corra atras dele gritando "volta aqui, orelhudo safado!", isso pouco tem a ver com o que ele é de verdade.
Coelho tem dentes, coelho tem orelhas, coelho tem patas longas.
Mas coelho não sabe balançar o focinho, coelho não gosta de cenoura.
Coelho não é coelho, lá dentro, nem coelho é pedra (nem dentro e nem fora!).
O que é que o coelho é?

Sala de espera

Não sei que é que há em mim que me faz assim tão doída.
Cada hora dói de um jeito, num ponto diferente... (mas a faca é sempre a mesma!)
Não sei que é que eu faço com tanta dor, se tomar remédio resolve?
Se alguém me massagear inteira, adianta?
E acupuntura?
'Resolver, resolve', é o que me diz o farmacêutico... "só por agora, talvez."
Ora, senhor farmacêutico! Mas só que só por agora não me serve!
Quero uma operação, quero revolução!
Quero me construir num laboratório.
Pode?
"E o que é que você quer que eu faça com teu corpo, garota?" Vai me perguntar o cirurgião plástico, cheio de bisturis à tiracolo.
"Com o corpo, faz o que quiser, mas para meu coração e a minha mente estou pensando em algo puxado pra um basalto, quiçá um granito, por favor... nada muito extravagante."
Daí o doutor vai me dizer que só entende de carcaças e que se eu quiser mineralidades ele pode até me dar, mas o coração sempre vai tar palpitante em algum lugar mais pro fundo.
"Mas é justo o coração que..."
E aí ele vai só me lançar balançadas de cabeça e me por pra fora.
Daí acho mesmo que a última esperança vai ter que ser botar com tinta vermelha nos melhores classificados da cidade e ver se algum mágico bem disposto tem colhões para o meu tratamento de choque.

Sobre colapsos e inversões


Às vezes você vê tudo girando muito mais rápido que devia, tudo fede, tudo parece embaçado.
Às vezes não tem ninguém do teu lado e o planeta parece completamente vazio.
Às vezes é como se a humanidade tivesse se extinguido...
E as plantas e os animais.
Pra onde foi o som?
Às vezes parece que tudo se entortou, tudo adoeceu; às vezes a sensação é de que uma enorme catastrofe está para acontecer, que o mundo está colapsado, que o mundo todo virou uma enorme gangrena.
Você sente arder a sua pele e acha que a camada de ozônio furou de vez e se àgua inunda teu corpo de todas as direções, você reflete: lá se foram os oceanos também!
E quando isso tudo acontece você pensa que o mundo acabou..
Você acha que "Já era o mundo!" E você acha que vai sentir uma baita falta dele... você fica pensando no que é que você vai fazer sem o mundo, boiando por aí no universo sem nada que te faça sentir em casa.
Mas, sabe, sempre existe uma outra possibilidade: pense bem... nem sempre é o mundo que chegou ao fim: às vezes quem tá morrendo é você.
Ahhhhhh! Então é daí que vem o fedor, é daí que vem a febre! - Pois sim!
E, droga!, você pretendia ter ainda alguns anos como você mesmo antes de virar poeira.

8.8.11

Sobre perda

O mundo todo despencando ao redor?
Não é isso que me preocupa...
Não são os estilhaços, não são os cortes, não é o chão se abrindo.
O que tira meu sono é a ideia de que a única coisa que eu sempre quis anda se afundando em uma areia movediça alguns muitos quilômetros de onde estou, e eu aqui de longe sequer posso determinar quando tempo eu ainda tenho.

7.8.11

Não sou eclética

Sou extremamente ortodoxa: só gosto daquilo que me apetece.

Big Brother, vaidade e um punhado de frustração

Mas me bate uma canseira das poses!
Da minha própria, da dos outros...
A gente perambula por aí empavonados, tal qual houvesse máquina de retrato gigante no céu...
E a gente, que há muito passamos de 1984, olhados de Marte parecemos uns grandessíssimos tolos!

6.8.11

Leporídea

Coelho se sente acuado que o mundo gira rápido demais.
E coelho se esconde na toca, espera o Sol nascer, mas o mundo debocha e esquece de amanhecer.
E aí o que é que coelho faz?
Coelho sabe que pode correr mais depressa que outro qualquer; sabe que pode virar a curva maior, mais rápido e muito melhor que quem quer que seja.
Mas coelho tem medo de a hora ser errada, coelho se sente piada e se esconde nos bastidores.
Coelho sabe que pode ter o que quer, coelho sabe que pode ter qualquer coisa!
Mas coelho espera... e nessa, primavera perde as flores, e mais uma era se esvai.
Porque coelho recua, acuado, coloca o rabo entre as patas, deixa as idéias malucas de lado, e quando decide ir não dá mais.
Coelho sabe que sabe saltar, sabe que sabe chegar lá... mas coelho se esconde na toca, no fundo mais fundo que achar...
Coelho se sente acuado, nauseado, coelho cansou de ser coelho...
Coelho não quer mais ser coelho, coelho quer ser pedra... que pedra não sente dor, e o mundo gira rápido demais.

5.8.11

Sobre os fracos e bolas de efeito

A gente se enrijece, a gente se transforma em aço, a gente se firma, se protege, a gente aprende a ver.
E não poderia ser pior quando a gente perde tudo isso por causa de uma brisa.
A brisa vem e joga tudo no chão como que perguntando pra gente se a gente tem mesmo certeza sobre as nossas verdades, se as fundações eram mesmo sólidas ou se a gente construiu só o telhado crentes que era um castelo inteiro.
Aí a gente fica na eterna dúvida se o problema do desmantelamento é da nossa fraqueza mesmo ou da força oculta que a brisa carrega descompromissadamente
Em todo caso, quando tudo cai por terra a gente faz promessas várias sobre os projetos da próxima construção, a gente organiza toda uma estratégia de combate à tufões, maremotos, sei lá mais o que...
E que puxa! Que frustração que a gente sente quando a gente percebe que nem mesmo vinte paredes de concreto conseguem deter aquele desgraçado daquele ventinho besta.

4.8.11

Sobre coisas insubstituíveis

Eu não consigo parar de chorar, simplesmente!
Eu tomei todo o cuidado do mundo, mas hoje de manhã acordei sem meu coração e não sei onde foi que o esqueci.
Se alguém o vir, por favor me avise... porque eu não sei o que é que se faz sem ele.
Se alguém o vir, por favor me devolva... que eu não sabia que dava pra se sentir um vazio maior do que o que eu já sentia.

3.8.11

Sobre gráficos e isolamento

No topo da pirâmide, seja que pirâmide for, seja pro bem ou seja pro mal, sempre estará o "eu" mais íntimo.
Os meios-termos são irrelevantes, e a base é algo que eu ainda não sei o que é...
Mas meu palpite é que ambos sejam também versões mais abstratas e desconectas de nós mesmos.
E nenhum homem é uma ilha, que ilhas são próximas demais umas das outras... a verdade do homem, é que todo homem é um universo (bem do tipo de universo de um verso só), a verdade do homem é que só ele mesmo existe e o que ele vê e o que ele sente e o que ele toca e o que ele ouve... isso também é ele.
E eu me sinto ele se sente sozinho demais.

2.8.11

Sobre torres e princesas


Volta que meus pés se cansaram de ficar em pontas,
Volta que o muro é alto demais (pra mim).
E você que pula tão alto e tão bem,
Pula o muro, vai?... (por mim!?)

Tem coisa que não tem volta

Ora, camarada reacionário! Há de se convir que já estamos em tempos de por fim aos nossos papos necromânticos, não?

Sobre o manicômio, digo, o Planeta Terra

Tem sempre aqueles tentando dar um xeque-mate numa partida de xadrez inexistente.
"Pfffffff", debocha você.
E aí só olha meio de lado, perdidão, quando um desses gargalha alto enquanto dorme no descampado que ele acredita ser um tabuleiro gigante em preto e branco.
Você só olha meio de lado praquele coitado, e daí deixa ele vivendo as irrealidades dele... pula por cima do corpo adormecido e então continua treinando com afinco os passos de tango que seu amigo imaginário te ensinou (que isso sim é importante).

1.8.11

Sobre o limiar entre o humano e o palhaço

Às vezes as paredes me olham torto e os tapetes se esguicham para os cantos para eu passar.
Às vezes a Lua se esconde atrás das nuvens e as nuvens por sua vez teimam em tentar uma fuga à francesa, evaporando-se em meros segundos. - Embaraçada, a Lua torna à tona... mas de brilho diminuto dessa vez.
Em tais ocasiões, os coelhos dão no pé se ouvem meus passos e os pássaros passam batidos pelo meu céu.
Pergunto ao verme que foi que eu fiz de tão mal assim e então ele me responde com torções e espasmos no débil corpo esverdeado.
Me sento angustiada na relva baixa e ouço as ciganas cigarras me lançando maldições em cantos zombeteiros e vejo os vagalumes sinalizando em morse uns para os outros alguma coisa maliciosa ao meu respeito.
Me olho no lago e (não) me vejo.
É nesse ponto da noite que eu entendo que carreguei demais na maquiagem de ser-humano antes de sair de casa.

Rebuscado

Quando atinge o clímax o desespero da incompreensão do que me é (ou deveria ser) próprio, numa vã tentativa de alcançar-me uma vez mais, re-busco-me.