30.11.09

Umbigo e rede

Que venham os verões, que venham as idéias, que venham os amores, que venham as experiências, que venham os progressos, que venham as vontades e a vida, porque eu vou ficar aqui mesmo onde estou.

Crescer II

Era uma vez três filhotes de cachorro e uma lagartixa.
Que ruim foi para a lagartixa assistir os cachorros crescerem e blablabla blabla...

Crescer

Era uma vez três filhotes de elefante e um cachorro.
Que ruim foi para o cachorro assistir os elefantes crescerem e alcançarem o topo das árvores, enquanto ele, tão pequeno, sumindo como um pedaço de nada lá longe no chão.

29.11.09

Conselhos do meu alter-ego V

-Devemos ser sinceras até nisso?
-Depende.
-Depende de que?
-Depende de que consequências você precisa.
-?
-Você quer mesmo que tudo fique bem?
-Capisco. E além do mais a mentira tem perna curta... né? =D

Clássicos do Absurdo Comportamental Humano

Não, não, não, não e não! Não me venha com sorrisos enquanto me diz para "cair fora".
E não me venha com choros quando está feliz com tudo isso, que eu sei.
Nem sequer "me venha", quando eu sei que está querendo mesmo é ir pra longe.
Não me agradeça pela paciência que eu não estou tendo, e nem me peça desculpas se acha (e eu sei que acha) que a culpa é toda minha.
Faça-me o grande favor de ir embora daqui agora [espero que saiba que isso quer dizer "fique"], não chore se sentir minha falta [por favor, chore muito], nem sequer sinta minha falta [e pense em mim o tempo inteiro]. Leve todas as suas coisas [deixe por favor tudo o que estiver impregnado com seu cheiro] e deixe tudo o que é meu por direito [não esqueça de levar o que te faz lembrar de mim]. Vá para bem longe [soube que há uma casa para alugar aqui do lado!] e não me procure nunca mais [se quiser vir amanhã para o chá, ficarei feliz].
Adeus [até logo, meu amor!].

28.11.09

Revolução

Quando descobriu que toda sua existência se resumia a montes e montes de papéis e documentos e nada além disso teria força e poder para definí-lo neste [e perante este] mundo, resolveu que era hora de queimar tudo e resumir-se a partir de então a fumaça e pó, porque estes se dissipam e então seria ele o indefinido, a página em branco, a liberdade de mudar de nome, a liberdade de mudar de casa, mudar de letras, números, opções e alma.

27.11.09

Perspectiva

Alguns sofrem por uma unha encravada da mesma forma que outros sofrem com uma deficiência.
Alguns se decepcionam com um jogo de futebol da mesma forma que outros se decepcionam com uma grande traição.
Alguns se sentem traídos pela chuva que cai sem avisar da mesma forma que outros se sentem traídos por um amor não-correspondido.
Alguns choram por si, outros choram por todos.
Mas as lágrimas são as mesmas e no final das contas o que se pode ver da Lua é apenas o rio onde nós as atiramos.

Conselhos do meu alter-ego IV

-Devemos varrer os cacos do chão?
-Não, deixa que tua mãe varre.
-Ah, é. Pode crer...

Eis a questão!

Esmigalharam-se os sonhos,
Despencaram-se as crenças,
Espatifaram-se as idéias,
Explodiram-se as lembranças,
Arrebentaram-se as virtudes,
Os amores caíram todos por terra.

Quem irá querer atravessar meu chão de vidro?

26.11.09

Suíço.

Hoje [e ontem e antes de ontem e antes disso] descobri que meu papo é furado e é por isso que minhas amizades furadas andam se esvaindo por entre meus dedos.
Isso fez um enorme rombo no meu coração. Mas quando olhei para esse rombo descobri outros tantos.
Pensei em consertá-los, mas minhas idéias todas têm furos.
Nunca dariam certo, nem mesmo com todo o dinheiro do mundo.
Por garantia, fui contar minhas moedinhas, mas não tinha nem um tostão furado. E isso era facilmente explicado pelo enorme buraco no meu bolso.
Mas aí lembrei que também sou mão furada, e mesmo se tivesse algum tostão, não poderia detê-lo [tal qual não posso deter as gotas que caem do furo no teto].
Socio-psicológico e emocionalmente, pode-se dizer que sou um queijo.

25.11.09

Conselhos do meu alter-ego III

-Acho que tenho a solução!
-... many, many, many nights go by...
-Descobri a solução para nossos problemas!
-... I sit alone at home and I cry over you...
-Ouviu? Hein?
-...What can I do???...
-EI!
-...CAN'T HELP MYSEEEEELFFFFF...
-...
-...'cause baby, it's you...
[...]

Conselhos do meu alter-ego II

-E se eu pudesse...
-Hahaha.
-Quê?
-Nada não. [sorriso]
-Até tu, Brutus?

Conselhos do meu alter-ego

-Me dá o ar?
-Não, você não tem asas. Isso não te serve.
-Me dá asas?
-Não, você não sabe voar. Isso não te serve.
-Me ensina a voar?
-Não, você não é forte para aguentar as asas.
-Me dá forças?
-Não.
-Porque?
-Porque aí você vai ser forte.
-E daí?
-E daí que você vai aguentar os problemas.
-E daí?
-E daí que você vai se sentir confiante.
-E daí?
-E daí que você vai poder pensar por você mesma e eu vou deixar de existir.

Decisão precipitada

Nunca mais quis ver a noite.
Anoiteceu pra sempre e eu nunca mais vi.

Quem vem comigo?

Quis sentar e esperar,
Mas o calor me fez querer fugir.
Quis fugir correndo daqui,
Mas o sol ausente me prendeu em mim.
Quis prender a respiração e esquecer o claustro,
Mas o esquecimento me esqueceu primeiro.
Quis ser primeira a me levantar do tombo,
Mas o cansaço se abateu sobre meu corpo.
Quis cansar o mundo cantando,
Mas o mundo me jogou no canto e se fez de surdo.
Quis me ensurdecer pra poder ser desse mundo,
E aí agora o mundo resolveu ser mudo.

Cansei de viver nesse mundo mudo que mudará de novo quando eu me calar.
Vou pra Marte!

Por favor?

Quase duas mil coisas a dizer.
O primeiro milhar foi cuidadosamente planejado. Não tanto quanto o segundo.
Começaria o discurso como quem não quer nada e terminaria gritando como quem tudo quer.
E quer tudo mesmo, exceto dizer o que precisa porque a resposta (a ausência dela, no caso) é tudo de que não precisa de forma alguma nessa vida.
E, de toda forma, era uma vida de poucas necessidades. Necessário mesmo só isso que iria pedir, inserido com jeito nas meticulosas duas mil coisas que seriam ditas (dessa vez com palavras ao invés de olhadas apreensivas).
Quando chegou a hora certa, mais certa que todas as outras horas certas que já haviam se passado nesses alguns anos, optou por olhar de novo porque a resposta para um olhar, na pior das hipóteses, seria a ausência de um olhar. E isso doeria menos, pois se pode inventar mais desculpas para justificar.
Os olhares carregados de palavras foram e voltaram de mãos vazias.
Lá estava a ausência, velha amiga, a qual foi justificada e perdoada instantâneamente.
Foi embora (de novo) e nada disse afinal, como era esperado.

24.11.09

Teimosia

Coloquei meu botão no sol, mas ele insistiu em não se tornar flor.
Reguei meu botão, mas ele insistiu em não dar o próximo passo.
Adubei meu botão, e ele continuou sendo [só] botão.
Conversei com ele, lhe sorri e lhe acariciei.
Meu botão me ignorou.
Então fui embora procurar outras flores e quando voltei pro meu botão ele era um lindo cravo vermelho... na janela da vizinha.

23.11.09

Dica:

Apague os holofotes para poder ver as estrelas.

Estique-se

Armei uma cabana na praia, a 20 metros do mar.
Morei alí por 40 anos de minha curta vida. Sentado do lado de fora, esperava a maré subir e refrescar meus calcanhares e minhas chagas.
A maré muitas vezes quase me alcançava, e então eu poderia até rezar e agradecer antecipadamente - por vezes o fazia mesmo.
Morri e virei pó. O vento forçou o passo a frente que me faltava e eu voei devagarzinho. Agora eu estou nas ondas e nada em mim dói mais, exceto quando o reflexo da minha existência se lembra que eu poderia ter feito o que o vento fez no primeiro segundo em que alí cheguei.

20.11.09

Eco

Na natureza nada se cria, tudo se copia.

E aí a mana me dizia que até as palavras eles (nós?) copiam.
E copiam direitinho: igualzinho.
A era digital trouxe o "Control C" e o "Control V" e agora a gente se acomodou (mais ainda).
Eu levei ao extremo e pensei em como seria um futuro em que as pessoas só conseguissem repetir o que ouvem.
E aí as conversas seriam cada vez mais assim:

[João e Pedro se encontram na praça]
Pedro - Bom dia.
João - Bom dia.
Pedro - Bom dia.
João - Bom dia.
Pedro - Bom dia.
João - Bom dia.
Pedro - Bom dia.
João - Bom dia.
(...)
[entra Maria]
Pedro - Bom dia.
João - Bom dia.
Maria - Bom dia.
Pedro - Bom dia.
João - Bom dia.
Maria - Bom dia.
(...)


Moral da história: É melhor a gente pensar direitinho o que falamos, porque pode ser nossa última palavra... e, se formos pessoas de grande influência, pode ser a última palavra da eternidade.

A minha seria "Obrigada".

17.11.09

Relaxamento

Vamos começar o exercício de relaxamento respirando fundo.
Devagar... agora, de novo. Inspira, expira.
Livre-se de todos os pensamentos, apague tudo o que vier à mente.
Pense num quadro negro. Sem molduras. Apenas a escuridão.
Agora imagine que você está lá dentro. O espaço escuro é um ambiente fechado. É apertado.
Seu corpo esta comprimido dentro de uma bola cheia d'água.
Seu corpo está crescendo. Agora a bola é pequena para você.
Sinta-se dentro dela, sinta as paredes, a textura, a água ao redor.
Você agora é forte, as paredes são finas demais para aguentar seu novo tamanho.
A parede da cápsula está rachando.
Agora você pode ouvir os barulhos da rua.
Ouça os barulhos da rua.
A rachadura aumentou, agora você pode ver a luz que entra pela fresta.
Imagine agora que pelo pequeno buraco nas paredes da bola você começa a ver a rua.
Primeiro o azul do céu, depois pode distinguir as árvores, o cimento, os carros.
A parede cede.
Você agora respira o ar limpo de fora.
Você experimenta a liberdade.
Sinta-se livre!
Observe a rua por um momento.
Você pode esticar seu corpo pela primeira vez. Estica as asas o máximo que pode. Balance-as.
Agora saia totalmente do ovo. Abandone as cascas onde estão e explore o lugar.
Primeiro você anda desajeitadamente.
Imagine os tropeços.
Aos poucos ganha confiança.
Sente que pode usar as asas e tenta dar uns pulinhos.
Tente voar.
O vôo é baixo, apenas um metro ou dois.
Imagine o barulho dos carros.
Imagine suas cores.
Você se aproxima devagarzinho.
Agora você pode ouvir o que as pessoas nos carros falam.
Ouça as músicas dos rádios.
Ouça o grito: "Cuidado com o passarinho!"
O motor.
O pneu.
Sinta-se explodir no asfalto quente.
Imagine que você ficará alí até a chuva varrer qualquer vestígio de sua rápida existência.
Sente dor? Pena de si?
Não sinta. Não sinta nada. Agora você não existe mais.
Pare de sentir.
Apague qualquer emoção.
Apague tudo o que vier à mente.
Livre-se de todos os pensamentos.
Expira, inspira.
De novo, agora. Devagar...
Vamos respirar fundo e encerrar o exercício de relaxamento.

16.11.09

Música acidental

O silêncio.
A tensão.
O deslizar.
A atenção.
A sinfonia.
O desfecho:
15 (ex)copos estilhaçados no chão.

Fingir descaso

Eu sempre [a partir de determinado momento] prendi a respiração para atravessar tuneis e, durante o processo, costumava fazer pedidos.
Hoje em dia eu só prendo a respiração, por força do hábito [e por esperar que pelo menos esse esforço físico me traga alguma recompensa, já que o esforço emocional não o fez].

Mutilação

Gostava de arrancar as pétalas das flores.
Uma pétala de cada uma, assim saberia em quais já havia depositado o olhar alguma vez.

Em certo momento de sua vida conheceu Margarida e esta lhe arrancou um pedaço do coração.
Depois disso ela nunca mais lhe dirigiu a palavra pois ele já havia sido observado anteriormente, como bem lembravam o pedaço de coração faltante e os olhos marejados.

A cena seguinte é ele ajoelhado no campo aberto e um bastão de super-bonder em mãos.

Vida Surda

Um homem gasto triste ao canto.

Chega outro:

"O que houve?"

"Não houve nada... Nunca houve, e é isso que dói."

E o choro.

Marcado de Pneu

Que ruim é se sentir como um passarinho estraçalhado no asfalto.

15.11.09

O Portão de Ferro do Fim da Rua

A 200 metros de distância eu podia vê-la parada de frente para o grande e enferrujado portão de ferro do fim da rua.
Era apenas uma criatura minúscula ao longe e eu só soube que era ela porque só ela ainda se preocupava com aquela peça fracassada do cenário urbano em que vivíamos.
Quando cheguei mais de perto senti um impulso de perguntar por que ela nunca havia tentado abrir o portão.
Ela me disse sem que eu precisasse perguntar.
Disse que preferia ficar do lado de fora e imaginar o que havia dentro, porque certamente dentro não teria nada melhor do que ela havia imaginado; na verdade deveria ser muito pior. Então ela preferia ficar de fora, para nao se decepcionar.

Um dia passei sozinha por lá e resolvi abrir o portão: 5 metros quadrados e nesse espaço apenas uma caixa de papelão vazia.
Quando vi imediatamente pensei "Ela tinha razão".
Sentei-me na caixa para pensar na vida e fiquei de frente para a rua de onde vim.
Nunca tinha visto o caminho que traçava todos os dias por esse ângulo.
Era incrivelmente bonito como a rua fazia um "S" subia a montanha e então desaparecia no horizonte.
E era incrivelmente reconfortante ter podido ver dalí o que sempre vi de lá.
Me senti feliz com essa nova perspectiva em mente e fui embora sendo mais do que era quando cheguei.

Balões

O Sr. Balão de Gás Hélio escapuliu das mãos de um menininho esmirrado certa vez e, sem nada que o segurasse, subiu cada vez mais alto.
Enquanto subia encontrou o Sr. Balão de Ar Quente e então seu ego inflado (típico dos balões) murchou drásticamente.
Ele via o Sr. Balão de Ar Quente em toda a pompa... enorme, colorido, ardente e poderoso.
E ele? Tão pequeno!!! Certamente umas trocentas vezes menor que o outro. De uma cor só: amarelo.
E aí o Sr. Balão de Gás Hélio foi perdendo o gás.
Voar não parecia mais fazer sentido para algo tão chulo quanto ele e seu fio de nylon arrebentado. Se sentia indigno.
Então antes que percebesse alcançou o mais alto que poderia e estourou.

Cedo demais. Não pôde assistir o trágico fim de Sr. Balão de Ar Quente que, após uma cruel mudança de ventos, caiu e iniciou o maior incêndio que a floresta da região já vira.

14.11.09

Transpiração

O céu vazio é meu paraíso invertido, onde ando de cabeça pra baixo.
O sangue acumulado no cérebro me faz borbulhar de idéias, mas borbulha tanto que entorna e os pensamentos escorrem pelos meus fios de cabelo até se libertarem de mim, caírem como chuva no chão negro e virarem estrelas.
Aí eu deixo eles irem, deixo que eles escapem para longe e olho o que não poderia ver se estivessem aqui dentro ainda: o brilho.

Em ordem de relevância

Sapatos gastos, terno azul e uma flecha na cabeça.
Já não sangrava, mas nunca cicatrizou.
Nunca soube o que aconteceu para que aquilo fosse parar em sua testa, nem porque, nem como, nem quem, nem nada.
Simplesmente acordou assim um dia, e, apesar do susto e de alguns incômodos específicos (ter que dormir de lado, aguentar os olhares horrizados, uma dorzinha aqui e outra alí...), nunca parou para pensar no absurdo disso tudo.
Fazia parte dele. Como uma sarda, um desvio de septo, uma unha encravada...
E lá ia pela rua o homem e sua flecha.. ou, como os outros pensavam, "a flecha e o homem que a carrega".

13.11.09

Bicho-papão dos adultos

No Halloween eu vou me vestir de Hipótese, porque nada mais faz as pessoas hesitarem, desistirem, recuarem, se isolarem e deixarem de viver do que a Hipótese do fracasso.

E garanto que muitas não só choram de medo, como mijam nas calças. Em alguns casos se atiram da ponte, que é pra prevenir o encontro com a assustadora criatura da possibilidade.

Fuga

O melhor método para fugir pra sempre é fugir só por hoje, só mais uma vez...

Com junto

Monologuei por tanto tempo,
Agora veio o vento
E assoprou poesia em mim.

Não sobrou nada sozinho.
Cada dois faz um parzinho,
Unimos o sopro e o pulmão.

O vento e eu, sistema perfeito,
A graça e o jeito,
A voz e o violão.

Fio de Lã

Deixa meu fio em paz.
Você vem aqui e desfaz meu fio,
E ai de mim se chio!
Aí você desfaz ainda mais
[até não ter mais fio
Pra eu querer].
O problema não é meu fio ou o que dele crio,
O problema é o que você vê.

12.11.09

Avalanche

Começou com um simples "Oi", que nem era pra mim.
Terminou com um sorriso sincero [e pra mim].
Não o sorriso que eu queria, mas um sorriso.
E mesmo sendo pouco [pro mundo que eu tinha construído pra nós], ainda é o que faz meu castelo de cartas desabar, e ainda é o que me faz querer construí-lo mais uma vez.

Era mais fundo do que parecia

Eramos eu e mais um no alto da montanha, batendo serinho equilibrados numa pedra.
Eu estava de costas pro abismo quando meu Mais Um sentiu cãibra e pulou fora sem avisar.
Foi aí que pesou pro meu lado e tudo desmoronou...
Estou em queda até agora.

Sol e Lua

O homem seguia empilhando tijolos, desta vez uma escada espiral.
Fazia 1000 anos que ela estava sendo construída, e ele continuava subindo.
O outro, lá no alto, simplesmente observava o fogo arder; observava as vistas e observava com atenção o homenzinho, curvado, empilhando tijolos.
- Quem vem lá? - perguntou-se o primeiro homem em voz baixa,
mas ventava e seu suspiro chegou ao balonista. O balonista, que há muito prestava atenção, mandou a resposta pelo mesmo vento:
- Vem chuva!!!
- Não me faz diferença - retrucou o homem do chão - faça chuva ou faça sol, eu hei de continuar; além disso, há muito que minha torre já se elevou sobre as nuvens. Mas, veja, a lua e as estrelas continuam tão distantes! - suspirou - Diga-me, balonista, já foste à lua?
O homenzinho no balão, sumindo entre as nuvens, prontamente disse:
- À lua...? Não, não. Não quero ir à Lua. Quero visitar o Sol. - E olhou com satisfação para o majestoso sol se escondendo atrás das montanhas do vale. Era um dia de sorte. A lua era nova, o sol estava se pondo e as estrelas começavam a aparecer no céu.
-Pois apressa-te, - disse o outro homem, interrompendo o balonista que contemplava o céu - que o sol já se vai no horizonte! Ou será que deverias fugir dele, indo para o leste? Quem sabe o encontrarás talvez antes e decerto?
- Espero que ele volte, amanhã, e então continuo meu caminho. Com ele me levanto, e com ele também me deito. A noite não é minha.
-Por que não? Nela se espalham as estrelas, muitas, ainda que distantes. Preciosas jóias, mais que o sol talvez.
-Sempre distantes! - esnobou o balonista - Nada nelas sequer se parece com o calor do sol.
-Ah, este calor que cozinha meus tijolos e prolonga minha tortura! Antes não pudesse eu ver o sol!
O balonista nada disse. Simplesmente conduzia o balão ao chão, como fazia todos os dias. Bem sabia ele como eram os homens do chão, da noite, das estrelas e da lua. Todos eles pessimistas, se escondendo atrás dos tijolos.
-Pensas alto demais! - grita o homem sem asas - O que farias com uma pilha de tijolos?
-Certamente não construiria nada. Nada que é feito de tijolos pode resistir ao tempo. Se tivesse uns em mãos, usaria como peso para meu balão, e então me lançaria para o alto mais uma vez. - e sorriu para si, apreciando a própria resposta.
-Sensato talvez, mas e se os ventos não te levarem a lugar algum? E se eles de repente pararem?
O balonista, prendendo o balão à grandes estacas encravadas na terra, abriu um largo sorriso e olhou pro céu, agora negro. Disse: Nem o tempo nem os ventos param!!! E se um dia parassem, então pararia eu também. Pararias tu também, homem do chão. O cimento de teus tijolos não secaria nunca!
-Pois construiria com pedras quaisquer que fossem! - retrucou o outro - Voar assim não me é dado, porém nem desejado! O sol vai e vem e me esquenta e me queima todo dia. A lua é a quem quero alcançar, ela que não se mostra quase nunca, mas que recompensa a todos os seus amantes com sua beleza e sua luz ainda que de nenhum jamais se aproxime!
- E então pra que servem teus tijolos e tuas pedras, se nem mesmo teu maior desejo podes, ou acreditas nao poder, alcançar?
Levemente desconcertado, o fervoroso apreciador da Lua, apenas respirou fundo. Silêncio.
Organizou os pensamentos e disse:
-Ah, sim... um dia hei de alcançar a lua! Vê essa escada que faço? É com ela que chegarei lá. Porque se não me deram asas, foi para que não me distraísse de meus propósitos!
-Nem tua torre mais alta irá alcançar a Lua, amigo. Porque a Lua não te alcança! O Sol, nos alcança todos os dias, sempre que estamos sob ele. Nos toca e acaricia, mesmo àqueles que não percebem.
Por isso, tuas torres serão todas em vão!
-O Sol nem sabe que existimos! Ele nos rega com calor, sejamos os mais santos ou os piores demônios. Todos iguais! - soltou um muxoxo -
Então por que ficar a contemplá-lo?
-Assim também o faz a Lua, mas sob ela somos todos (de forma igual) somente pobres humanos, desmerecidos de seus carinhos.
E agora cara a cara com o homem da Lua, via que não era só homem da lua; era um pobre lunático!
Pois a loucura era remédio para aquele homem! Entorpecia-o e o levava a sonhos que o mantinham sobre os próprios pés. Sobre aqueles mesmos pés que desprezava, que trocaria certamente (e secretamente) por belas asas!
-Pois bem, balonista! - finalmente disse o lunático - Se voares no sentido contrário, para o Oeste, farás melhor, pois o sol virá até ti!
- Sim, é para lá que vou! E sugiro que me acompanhe! - acrescentou.
-A lua é a mesma em todos os cantos, mas quem sabe não fizesse mal ir alhures de balão? Certamente poderia aprecia-la mais de perto.
-Ficarei grato e honrado com a comapanhia!
Partiremos amanha, ao despertar do sol! - Encerrou o balonista, feliz. - Agora, peço permissão para me sentar aqui e apreciar o céu noturno por alguns minutos...
Se virou e o louco sem asas já dormia. Ficou alí e observou, quieto, o lunático, adorador de Luas, encolhido no chão perdendo o espetáculo de seus sonhos.

Ou os dois...

Não sei se as pessoas deixam de falar o que pensam por medo da resposta ou por medo de descobrirem o que de fato pensam.

11.11.09

Inverso

Nada pode ser mais poderoso do que um riso ou um choro, exceto um riso que vem no lugar do choro ou um choro que vem quando era pra ser riso.

As Lápides estão na chuva

Uma, duas, três, quatro. Dez mil chuvas.

As lápides estão na chuva e ninguém se incomoda.


Sentei num cantinho e esperei. Peguei chuva com elas pra ver como era.

Me senti esquecida...E aí esqueci também, só de pirraça.

E mofei.

A hera começou a prender meus pés no chão. Meu corpo era um bloco duro de concreto.A inexistência me preencheu e não deixou espaço pra mais nada.Tudo o que fui se resume agora [e de hoje em diante] a uma fotografia desinteressante e sem valor algum.

As lápides e eu estamos na chuva.

Será que agora há algum incômodo?

Saberemos amanhã de manhã, se houver margaridas aos meus pés.

[tomara que sim!!!!!! tomara que simmm!!!!!!!!!!]

10.11.09

Lembrar de esvaziar os bolsos.

Nem com toda a superstição católica de uma mãe, uma avó e duas tias conseguiu vencer a maratona.
Quando chegou em casa despiu-se para tomar banho e percebeu que teria sido muito mais fácil correr sem todo aquele peso religioso pendurado no pescoço.

9.11.09

Para matar a fome

Primeiro passo: você precisa sentir fome.
Segundo passo: você precisar perceber que sente fome.
Terceiro passo: você precisa entender por que sente fome.
Quarto passo: você precisa saber o que fazer para matar a fome.
Quinto passo e conclusão: mate-a.

Se a gente se dividisse em cinco - o que sente, o que percebe, o que entende, o que planeja e o que age - nós passaríamos de meras teorias ambulantes.

Resta [mais] um.

Doçura, seja bem vinda.

Não só perco a cabeça como perco o corpo junto!

Já aconteceu de eu acordar de madrugada e sentir falta de mim.
"Onde diabos foi que eu me esqueci?"

Resta Um

Primeiro a plenitude.
Daí se vai a massinha,
Daí se vai o pique-esconde,
Daí se vai o passa anel,
Daí se vai o tempo.
Daí se vão os bilhetinhos,
Daí se vai a boa conversa,
Daí se vai o melhor amigo,
Daí se vai o mestre.
Daí se vai a segurança,
Daí se vai a auto-confiança,
Daí se vão as metas,
Daí se vai a vontade,
Daí se vai o controle,
Daí se vai Deus.
Sobrei.

6.11.09

Meio Perfil

Mari disse que ele não conhecia direito seus "bons ângulos" e eu pensei que era assim mesmo!
Também ninguém conhece direito meus bons ângulos!
Tive um momento de revolta.
Em seguida, fiquei satisfeita comigo mesma.
Acho que por ter me achado superior... algo como "é, ninguém sabe olhar direito... eu!".
Depois era a chateação, afinal se ninguém mais viu talvez eu tenha visto errado.
Mas o resultado da soma dos pensamentos é, quase sempre, o que na matemática seria o resultado de uma subtração deles.
Eles colidem lindamente, lançam mil respingos pelos ares e trazem a escultura pronta:
Importa é que todos podemos ver alguma coisa que outros não podem! É um presente só nosso.
E ainda melhor que isso é o fato de que os outros podem ver mil coisas que nós não podemos e isso torna tudo (principalmente nós mesmos) muito mais interessantes.
É pra isso que vivemos: para vermos e ensinarmos a ver [um pouco mais]!

Teoricamente livre

Ele era do tipo que trancava a porta do banheiro mesmo morando sozinho e sabendo que ninguém o veria fazendo xixi.

Não que ele achasse que haveria alguém espionando ou coisa do tipo, ele só trancava a porta porque era assim que deveria ser feito.

Havia uma porta alí. Era um banheiro.
Nada mais natural que fechar.
Mas fechar era pouco, era uma atitude incompleta.
E ele era do tipo que levava tudo até o fim.
Ele trancava a porta.

Num dia de grandes problemas intestinais ele esqueceu a porta aberta e descobriu que poderia fazer suas necessidades enquanto assistia a TV da sala.

Aí tudo mudou:
Ele então era do tipo que não trancava a porta sob hipótese nenhuma.
Ele era agora do tipo que andava nu pela casa, que fumava charuto pelado na rede, que finalmente se sentia livre para cantar Bruno e Marrone em alto e bom som.

Ele era livre.

Ele era agora do tipo que se via no espelho sempre que possível (parava durante vários minutos para se admirar enquanto alisava a protuberante barriga), mas demorou muito para perceber que aquele que ele via não era ELE.

Porque ELE era do tipo que trancava a porta do banheiro mesmo morando sozinho e sabendo que ninguém o veria fazendo xixi.

Óbvio despercebido

Passou uma década sentado, com as pernas cruzadas, dentro do balão antes de entender que se quisesse mesmo alcançar as estrelas deveria então abrir mão dos pesos e atirá-los longe.

5.11.09

Soluço

Antes de mais nada, pediu desculpas.
Disse ainda estava aprendendo a lidar com aquilo tudo.
A resposta foi severa.
"Então quando você aprender, me chame."
Pensando a respeito não parece ter sido tão fria quanto lhe soou na hora.
Mas o olhar que lhe foi lançado falou mais alto que as palavras proferidas e ela quase caiu no choro.
Por falta do que responder, disse "Tá."
E aí isso chegou aos ouvidos dele como um grande desaforo.
"Você não tem mesmo respeito por nada."
O "quase caiu no choro" já tinha se transformado em lágrimas pesadas.
Despencavam pelo rosto tão duramente que pareciam arrancar-lhe a pele.
Se não arrancavam a pele, de certo arrancavam uma partezinha do coração.
Então ele foi embora e a deixou alí com o sangue e os cacos nas mãos e a certeza do que fazer com eles.
.
.
.
.
Colar de novo. Claro!

Vontade.

- O que você quer dizer com isso?
- Quero dizer que isso pra mim é como sentir o calor da parede a 5 metros de distância.
- Não entendi.
- Eu sei...

4.11.09

Pode ser!

É que teu descaso
(discurso raso!)
Faz do nosso acaso
Só mais um caso
De verão.
Mas se quiser casar,
Eu caso.
Por que não?

3.11.09

Do Zero.

É preciso aprender a viver.
Saber viver é consequência.