17.10.09

Café da manhã: guarda-chuva

O problema de comer gengibre é que o gosto fica na boca por dias.
Esse também é o problema de comer doce de abóbora, comer sucrilhos, de comer queijo estragado por engano, de beber um cálice de aguardente de uma vez só.
Esse é o problema. E não me venha com soluções baratas que envolvam escovar os dentes.
Porque eu e você sabemos muito bem que essa tipo de limpeza consiste em tirar um gosto para colocar outro no lugar.
E aí o que é que vai tirar o gosto da maldita pasta de dente?

Isso pra não falar das vezes em que engolimos sapos por pura subserviência.
Mas garanto que há aqueles que gostam.
Da mesma forma que há quem goste do gostinho amargo da vingança, do gosto da saudade... sobretudo do gosto da vitória (e afinal o que há de tão bom nisso?).
Há também que goste do cheiro de merda, mas isso é uma outra questão.

O fato é que muitos de nós nem percebem o gosto que carregam em suas bocas.
Talvez isso seja bom, porque a gente tende a querer se livrar daquilo que inerentemente faz parte de nós, uma recusa, uma auto-rejeição.

Hoje eu estou com gosto de guarda-chuva na boca desde que acordei.
É ruim.
Eu sei que muitos gostos são ruins, mas o ruim tem que existir.
Se o gosto de guarda-chuva não existisse eu não poderia aproveitar o gosto do pernil que virá na hora do almoço.
Tem gente que não gosta de pernil.
E aí pra eles o gosto é ruim.
Seja bom ou seja ruim, o fato é que qualquer coisa é melhor do que viver só com o gosto da vontade de sentir o gosto.

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