12.11.09

Sol e Lua

O homem seguia empilhando tijolos, desta vez uma escada espiral.
Fazia 1000 anos que ela estava sendo construída, e ele continuava subindo.
O outro, lá no alto, simplesmente observava o fogo arder; observava as vistas e observava com atenção o homenzinho, curvado, empilhando tijolos.
- Quem vem lá? - perguntou-se o primeiro homem em voz baixa,
mas ventava e seu suspiro chegou ao balonista. O balonista, que há muito prestava atenção, mandou a resposta pelo mesmo vento:
- Vem chuva!!!
- Não me faz diferença - retrucou o homem do chão - faça chuva ou faça sol, eu hei de continuar; além disso, há muito que minha torre já se elevou sobre as nuvens. Mas, veja, a lua e as estrelas continuam tão distantes! - suspirou - Diga-me, balonista, já foste à lua?
O homenzinho no balão, sumindo entre as nuvens, prontamente disse:
- À lua...? Não, não. Não quero ir à Lua. Quero visitar o Sol. - E olhou com satisfação para o majestoso sol se escondendo atrás das montanhas do vale. Era um dia de sorte. A lua era nova, o sol estava se pondo e as estrelas começavam a aparecer no céu.
-Pois apressa-te, - disse o outro homem, interrompendo o balonista que contemplava o céu - que o sol já se vai no horizonte! Ou será que deverias fugir dele, indo para o leste? Quem sabe o encontrarás talvez antes e decerto?
- Espero que ele volte, amanhã, e então continuo meu caminho. Com ele me levanto, e com ele também me deito. A noite não é minha.
-Por que não? Nela se espalham as estrelas, muitas, ainda que distantes. Preciosas jóias, mais que o sol talvez.
-Sempre distantes! - esnobou o balonista - Nada nelas sequer se parece com o calor do sol.
-Ah, este calor que cozinha meus tijolos e prolonga minha tortura! Antes não pudesse eu ver o sol!
O balonista nada disse. Simplesmente conduzia o balão ao chão, como fazia todos os dias. Bem sabia ele como eram os homens do chão, da noite, das estrelas e da lua. Todos eles pessimistas, se escondendo atrás dos tijolos.
-Pensas alto demais! - grita o homem sem asas - O que farias com uma pilha de tijolos?
-Certamente não construiria nada. Nada que é feito de tijolos pode resistir ao tempo. Se tivesse uns em mãos, usaria como peso para meu balão, e então me lançaria para o alto mais uma vez. - e sorriu para si, apreciando a própria resposta.
-Sensato talvez, mas e se os ventos não te levarem a lugar algum? E se eles de repente pararem?
O balonista, prendendo o balão à grandes estacas encravadas na terra, abriu um largo sorriso e olhou pro céu, agora negro. Disse: Nem o tempo nem os ventos param!!! E se um dia parassem, então pararia eu também. Pararias tu também, homem do chão. O cimento de teus tijolos não secaria nunca!
-Pois construiria com pedras quaisquer que fossem! - retrucou o outro - Voar assim não me é dado, porém nem desejado! O sol vai e vem e me esquenta e me queima todo dia. A lua é a quem quero alcançar, ela que não se mostra quase nunca, mas que recompensa a todos os seus amantes com sua beleza e sua luz ainda que de nenhum jamais se aproxime!
- E então pra que servem teus tijolos e tuas pedras, se nem mesmo teu maior desejo podes, ou acreditas nao poder, alcançar?
Levemente desconcertado, o fervoroso apreciador da Lua, apenas respirou fundo. Silêncio.
Organizou os pensamentos e disse:
-Ah, sim... um dia hei de alcançar a lua! Vê essa escada que faço? É com ela que chegarei lá. Porque se não me deram asas, foi para que não me distraísse de meus propósitos!
-Nem tua torre mais alta irá alcançar a Lua, amigo. Porque a Lua não te alcança! O Sol, nos alcança todos os dias, sempre que estamos sob ele. Nos toca e acaricia, mesmo àqueles que não percebem.
Por isso, tuas torres serão todas em vão!
-O Sol nem sabe que existimos! Ele nos rega com calor, sejamos os mais santos ou os piores demônios. Todos iguais! - soltou um muxoxo -
Então por que ficar a contemplá-lo?
-Assim também o faz a Lua, mas sob ela somos todos (de forma igual) somente pobres humanos, desmerecidos de seus carinhos.
E agora cara a cara com o homem da Lua, via que não era só homem da lua; era um pobre lunático!
Pois a loucura era remédio para aquele homem! Entorpecia-o e o levava a sonhos que o mantinham sobre os próprios pés. Sobre aqueles mesmos pés que desprezava, que trocaria certamente (e secretamente) por belas asas!
-Pois bem, balonista! - finalmente disse o lunático - Se voares no sentido contrário, para o Oeste, farás melhor, pois o sol virá até ti!
- Sim, é para lá que vou! E sugiro que me acompanhe! - acrescentou.
-A lua é a mesma em todos os cantos, mas quem sabe não fizesse mal ir alhures de balão? Certamente poderia aprecia-la mais de perto.
-Ficarei grato e honrado com a comapanhia!
Partiremos amanha, ao despertar do sol! - Encerrou o balonista, feliz. - Agora, peço permissão para me sentar aqui e apreciar o céu noturno por alguns minutos...
Se virou e o louco sem asas já dormia. Ficou alí e observou, quieto, o lunático, adorador de Luas, encolhido no chão perdendo o espetáculo de seus sonhos.

Um comentário:

  1. O Sol e a Lua são dois lados de uma moeda grande e descontínua.

    ResponderExcluir