17.12.09

Consolo

E então o descabido e a impossibilidade vieram à tona com toda a força; barreiras foram atravessadas debochadamente, obstáculos foram ultrapassados sem hesitação e estava bem alí, diante de mim, o perfeito cristalizado em forma de improbabilidade.
Eu, que sempre esperei um dia encontrar a perfeição nos astros, em Deus, na arte ou, mais fervorosamente, em uma pessoa, a encontrei num grão de areia.
Sentada de frente pro mar com o vestido roçando a pele queimada, pouco me importava o horizonte infinito ou a glória reluzente do Sol; alí estava O Grão de Areia entre zilhões de grãos de areia, alí estava algo que me tirou o fôlego e que me fez adormecer em idéias tão lúcidas quanto fugidias. Alí estava O Grão de Areia e nele nada pude ver que o tornasse especial, exceto sua inacreditável especialidade.
Quis tê-lo, mas de certo isso afetaria tudo. Não, não... ele deveria ficar alí para continuar sendo eternamente o perfeito e ainda que viessem os ventos e as chuvas e que lhe pisoteassem e lhe desviassem o destino, ainda permaneceria intocado em minha memória. Assim passei a apreciá-lo e apenas apreciá-lo, não pretendi então fazer parte de sua existência mais, nem pretendi compreendê-lo. Aceitei sua soberania perante tudo o mais e aceitei a própria aceitação.
Ainda que sob as lentes de um microscópio se revelassem suas imperfeições, nada poderia afetar o sentimento que me provocou sua serenidade e então seria ele o Perfeito para mim, mesmo que a razão de tudo isso seja apenas confortar-me das angústias de minhs próprias imperfeições.

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