2.12.09

Desnível

Era uma moça no topo da escada.
Era um moço no pé da escada.
Era o moço aos pés da moça, e a moça aos pés do nada.
Era o moço que se dizia pouco. Pouco pra moça, que a moça é tudo [tudo para o moço, ao menos].
Era a moça que não via o moço, não ouvia o moço, existia sem o moço. A moça vivia virada pro vento. E o vento sempre ao norte, e o moço sempre ao sul.
E que pena ter alí, entre o moço e a moça, escada tão cheia de degraus...
Não fosse isso, o moço diria à moça que se quer mesmo a Lua, ele lhe dá.
Não fosse isso, a moça ouviria do moço o que ele tanto repete baixinho, mas lá do alto a moça não ouve...
O moço queria mais que tudo que a moça viesse pra perto, descesse tudo aquilo e o olhasse ao menos uma vez.
Mas a moça lá do alto não via o moço...
Mas o veria se ele subisse até lá e lhe entregasse a flor que ainda guarda no bolso esquerdo desde de maio.

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