21.3.10

Ao entardecer, antes da tempestade.

Que curioso é o céu azul-cinzento e as nuvens mal-encaradas que se intercalam com umas poucas estrelas; dessas que, em sua enorme ousadia, deram as caras antes da hora para ver o que se passa.
Que curiosas, as montanhas e as árvores... perdendo tudo o que as torna visualmente reconhecíveis - cor, sombras, formas, matéria - e se transformando em um só ser, um só monstro que, com escuridão, interrompe a luminosidade do céu e se lança de um lado para o outro com o vento frio.
O vento frio, que balança também os cabelos e as migalhas e me obriga a engolir mais ar do que preciso, é rápido e traz algumas gotas de sabe-se lá onde, como um bom amigo que delicadamente sugere um guarda-chuva.
Na ausência do guarda-chuva ele se torna o cruel zombador.
Mas de certo zomba sozinho, pois quem há de pensar no vento - causa invisível - quando as consequências tão visivelmente explodem aos pouquinhos em todos os cantos e desmascaram o Gran Finale das dezessete horas?
Dezoito horas e o primeiro raio. Curioso... É por ele, só por ele, que se apagam as estrelas... ou simplesmente se tornam desinteressantes demais para que as percebamos.
Tudo ao redor então se torna uma grande arena, a disputa de poderes entre raios e ventos. Os raios trazem o som e os ventos trazem então a chuva bruta que nunca vai deixar de ser notada.
Quando abrem-se enfim as cortinas para o show eu já não acho nada mais curioso, já não tenho mais qualquer interesse pelo palco.
Me deito, nessa hora, no escuro do quarto, para recordar com carinho o entardecer antes da tempestade: o único momento do dia em que sei que os sons do seu mundo estão em concordância com os sons do meu.

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