26.3.10

Cênica

Quem me dera saber onde é que acabam os bastidores.
Eu me vejo ainda vezes e vezes procurando uma frestinha por entre as muitas cabeças que passam para cá e para lá como se tivessem de fato algo a fazer.
Eu não sei o que elas fazem, só sei que lhes falta algo, tanto quanto a mim. Nós não sabemos onde terminam os bastidores... se nós soubessemos onde terminam os bastidores nós saberíamos o que, do todo, nos cabe. Saberíamos onde terminamos - ou onde fica o novo começo.

Eu gostaria, além disso, de poder descobrir exatamente o que é que separa o palco e a platéia... mas assim, de longe (tão longe que acho que inventei!), eu não sei. Só sei que também não o sabem o sonoplasta, que coloca a música tão alta (tão além da conta...), e o técnico de iluminação e seus holofotes voltados para si.

Acho mesmo é que eles não querem saber...
Eu quero. E por isso que já tanto gastei de mim perguntando por aí.
Mas as coisas não falam. Não podem gritar para mim o que lhes distingue. ["Tablado diz para Cortina: Bom dia, bela senhora! Posicione-se à minha esquerda, por favor."]
As pessoas, que têm boca e falam, falam muito mas não dizem e não dizem porque não ouvem e se não ouvem não respondem. E eu, mimada, só quero ouvir as respostas e nada mais.
Fico eu assim, por isso, perdida entre o concreto mudo e a carne de palavras inúteis.

Se desisto de perguntar, é só para ver se descubro a resposta com os olhos.
Mas que perda de tempo...
Sequer posso saber qual é a diferença entre os atores do palco e os atores das cadeiras voltadas para nós. Eu olho e re-olho até me cegar, mas não percebo tal sutileza.
Quem sabe se não baixassem todos as máscaras?

Existe tanto que me escapa sobre o teatro e tudo o mais... acho, na verdade, que tudo - exceto o espacinho escuro em que estou - me é transcendente e por isso que, tão forte, me desperta o 'querer'.
Eu quero tudo, mas só de gula.
Juro que ficaria satisfeita se alguém me contasse simplesmente o que eu estou fazendo aqui e porque não tenho uma cópia do roteiro.

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