2.4.10

Houston, We've Got a Problem

A décadas-luz de onde estou, numa poça plasmática semi-inexistente (mas gloriosa), nasci.
É o que gosto de pensar quando, às vezes, vejo de longe - sempre de longe - as estrelas que nascem e que tanto brilham.
"Vai ver que sou também estrela!"
É que aqui no meu cantinho cúbico (cantinho à quarta potência?) só existo eu e mais nada; e nunca me vi. Tudo o que sei de mim sei porque sinto explodir aqui dentro e escapar para o cantinho de outro.
Aliás, "outro" também é algo que só sei que existe porque vejo o brilho. E foi uma pena saber que o brilho que vejo é só o retrato daquilo que o "outro" foi, e aquilo que o "outro" é eu só vou saber amanhã... mas aí amanhã ele já não é mais...
Pensando assim, aprendi a não confiar nos olhos.
Um sentido a menos.
Levando em conta que aqui é o vácuo e que aqui também não adianta gritar, quais sentidos me sobram mesmo? E aliás essa coisa toda de "sentir"... acho que nunca cheguei bem a entender isso. É que faz sentido sentir, é bonito e é assim que se existe. E é assim também que começo a duvidar da minha existência... mas aí queima.
Demora um tempo, mas eu acabo descobrindo que o calor que eu sinto é só o meu mesmo. Seria bom se fosse o calor dos outros, aí eu me sentiria aconchegada com a idéia de que a distância não me torna solitária, que estamos todos nos divertindo por aqui e que somos todos grandes companheiros.
Não sei se algum dia seremos companheiros, minha única esperança é continuar girando. O giro é o que nos liga, e eu não sei se agradeço ou se vomito cada vez que me bate a náusea que me causa a gravidade.
Um solavanco inesperado e eu rebato com força dobrada.
Eu giro de cá e te faço girar de lá e você gira de lá me faz girar de cá. E giramos assim todos juntos - todos tontos por culpa dos outros, todos culpados da tontura alheia - mas sempre cada um no próprio canto.

E se querem saber, eu acho (meio que sei com toda a certeza) que eu não sou isso que vejo os outros serem. Eu giro o mais forte que posso porque me envaidece pensar que eu também sou entidade causadora.
Mas será que sou?
Esses outros que brilham lá longe, ou esses outros que giram sempre tanto ao redor dos que brilham - esses são o que eu vejo. Mas será que eu sou o que eu vejo (do pouco que posso ver)?
Pelo menos sei que não sou desses que arrastam os outros pro próprio poço sem fundo - apesar de agir, por vezes, como tal.

O fato é que eu (confesso agora perante eu e só eu) não acho que nasci a décadas-luz daqui... Sinto que existo a 1 segundo-luz e olhe lá.
Não acho que nasci numa poça plasmática gloriosa...
Lá nascem os outros, as estrelas, eu já vi.
Mas já vi também o rastro que deixo... e é rastro de estrela.
De estrela fui feita mas - conformo-me? - estrela não sou.
Sou pedaço de estrela que flutua por aí e perde um pouco de si a cada trombada e, quando encontra algo que lhe serve, se faz crescer um pouquinho.
É minha melhor teoria, mas não posso me ver tanto quanto não posso ver nada mais.
Não sei o que sou.
Só sei que quero aterrizar. Seja onde for.

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