18.5.10

Fogo

Prosepina fugia do fogo.
Porque o Corpo de Bombeiros queimava tão alto que até lá, da torre dela, no castelo dela, no alto da montanha dela, ela se asfixiava com a fumaça.
Daí Prosepina correu pela cidade tentando achar escape, mas nada.
Foi pro porto, mas lá não tinha mais barco nenhum...
E aí Prosepina entrou num bar, onde as mamães preparavam as mamadeiras das crianças famintas e no rádio o radialista berrava como um louco! Berrava porque o povo apagava o fogo com os barcos do porto.
Prosepina saiu correndo e quis se jogar no mar... que a moça boba achava que morrer assim é melhor que assado - literalmente.
Mas Prosepina se esqueceu das piranhas, e só se lembrou delas quando foi carregada pelas ondas e desaguou no rio mais próximo.
E agora ela via: o Oceano Pacífico galopava feroz, pelo oeste, e jogava toda aquela água salgada no leito estreito do riozinho da beiradinha de lugar nenhum.
As estrelas-do-mar só olharam, calmamente, quando as carpas prateadas - 15 milhões delas - desceram a cachoeira para desovar.

Prosepina aí caiu sem ar, ao travesseiro agarrada - última súplica -, no chão frio da torre do castelo.
E o fogo nas cortinas, da vela derramada, consumiu então tudo o mais.

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