25.1.11

Sobre seus pássaros migratórios

E aí era você descendo a colina, tentando acompanhar a mancha de um milhão.
Suspiro , suspensão, solavanco.
A primeira impressão era que que se movia lentamente - marchante - e então você se sentia vitorioso correndo ao encalço, totalmente descalço, e aí era o chão de cascalho te arrancando pedaços. (E tudo bem, que você só tinha olhos pra olhar pro alto.)
E lá no alto mesmo era o avesso, e você nem suspeitava que cada um dos mil, dos milhoes, dos zilhoes... cada um ia indo em máxima velocidade alternando o esforço do corpo e o esforço do vento.
Ia se distanciando a nuvem incomum, disparando trovoadas esganadas aos montes, e você alí se perguntando se cada um dos tantos guinchos era pra dizer adeus ou para anunciar a um alguém distante que não faltava mais muito para se reunirem.
E tanto faz, a questão era que aí era você ficando pra trás.

A segunda impressão era de que ia.
E você bem que queria saber pra onde... e aí era você querendo ir junto.
Era você querendo fazer nova forma na formação, ser a dianteira, o pivô, ou então quem sabe o último... tanto fazia, você só queria ir também.
Mas suas pernas curtas e seus braços pelados, desalados, não passam de um quilômetro. Desolado, você quando pensa nisso.
E que doído seria saber que lá do alto agora só existe regresso, gigante esquadra de uns pedaços de carbono muito bem organizados fazendo meia volta.
Daí era você não reconhecendo mais os componentes isolados do cardume, que então ia serpenteando para o norte, feito se tivesse mesmo uma estrada a que seguir.
E você que nunca gostou de voltar resolveu parar um pouco as pernas pra poder ver melhor o céu de piche borbulhante ir se picotando, picotando, até voltar a ser azul.
E a única coisa que foi deixada por lá mesmo foi a dúvida.
E você ficou pensando que de repente pra frente e pra trás não existe, que de repente todo retorno é uma ida.
E foi bem nessa hora que você decidiu ir pra casa também.

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