19.3.11

Sobre os decepcionados

Tem um pedacinho de lagoa perto da sua casa onde você costumava brincar.
É nesse pedacinho de lagoa, tão pequeno que só cabe você, que você construiu seus melhores sonhos.
E talvez porque só coubesse você é que você fez isso, se coubessem outros, os sonhos teriam que ser a dois ou três e você nunca achou que algo assim fosse dar certo.
["Quem além de mim sonharia com um céu desse jeito que eu sonho e com um mar desse jeito que eu sonho?"]
Esse pedacinho era curto, mas era fundo o bastante para te encharcar.
Você ficava com o nariz para fora, só enquanto não havia aprendido a ser peixe ainda - algo em que você estava trabalhando desde o verão passado.
["E aí o meu céu do jeito que é e o meu mar do jeito que é vão ser pra sempre do jeito que eu sonhar que eles sejam."]
Você achou que você soubesse tudo sobre seu pedacinho de lagoa, aquele tudo que você sabia que jamais iria conseguir saber sobre nada mais.
Tudo era tão grande, tudo tanto te transcendia não é mesmo?
Quando você tropeçou no pedacinho de lagoa você achou que havia encontrado algo com o que pudesse lidar.
Só que daí um dia você se atirou lá dentro e ele, naquele dia, talvez por causa da chuva, era mais fundo do que você achava que fosse.
E você não se afogou, antes tivesse sido isso...
Você escapou de lá, sem nenhum arranhão.
Mas seu céu do seu jeito morreu, e da mesma forma o mar que você criou.
["..."]

No dia seguinte era você em algum outro canto do quintal fazendo o funeral daquele pedaço do seu coração que acreditava que dava sim pra se conectar com algo além da própria pele.

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