28.4.11

Sobre foguetear por aí sem escudo e sem capacete

Você caminhava por aí aos tropeços de tanto girar os trezentos e sessenta  graus pra tentar descobrir de que lado chegavam as flechas.
Talvez fossem invisíveis... você não sabia.
O que sabia era que doíam bastante na hora do impacto.
E que doíam bastante também depois que o impacto cessava, mas o metal continuava enfincado na carne.
Pensava: é preciso ser forte e tirar de mim o que não é (mais...) meu.
Mas na hora de tirar sempre desmaiava, sempre tinha alguma outra coisa mais urgente pra fazer.
Daí ficava com aquilo espetando o coitado coração, espetando tão fundo que, se existe alma, tinha certeza que chegava até lá.
E daí pra não doer tanto, você descobriu que bastava não respirar mais, e daí não se mexiam os pulmões e tudo permanecia em pura anestesia.
O que é uma pena é que começaram a chegar na soleira da sua porta umas flores com cheiro de hades, e esse tal desse cheiro de hades te fazia lembrar que não era bem esse o caminho; te fazia lembrar que remédio forte resolve bem, mas que também tem contra-indicação pesada demais para ombros tão fracos quanto os seus.
Daí abria os olhos em uma sexta de epifania e arrancava todos os estilhaços com uma fúria hercúlea.
Três minutos de liberdade até que chegassem as novas inquilinas cicatrizes.
Vinte mil, trinta mil, quarenta mil, e todas elas juntas formavam uma frase meio assim: "você, simplesmente, não pode esquecer".
É. Você não podia esquecer não.
Você ainda não pode, mesmo enquanto avança alguns quilômetros a mais pela estratosfera, rumo ao espaço sideral -você acredita: seu lar.
E é rumando para lá que você começa a perceber que é bem de lá mesmo que saem os tais dos dardos pontiagudos.
É por isso, talvez, que eles nem doam mais tanto....
Não doem, agora não é mais talvez.
Agora tem certeza.
Porque você descobriu algo que dói mais forte, e esse algo é a consciência de que seu paraíso te rejeita.
Que as agressões poderiam vir do sul, do leste, do oeste e do meio, mas vêm do norte só porque você o quer.
E você pensa muito em desistir, mas só pensa... e enquanto pensa já se passaram mais trinta quilômetros e mais trinta mil pontadas atingiram o seu peito de carne viva.
Você ainda fica sem ação.
Você ainda não sabe o que fazer.
Você nunca vai saber e é por isso que você nunca vai fazer nada, você não vai girar o volante e você não vai acelerar.
Você vai esperar que seu monstro banhado a ouro se decida se já chega de bullying ou não.
E, você ressalta, você vai esperar... porque, como se a essa altura do campeonato fosse grande coisa, você não nasceu pra pedir arrego. Hahá.
"É isso aí, seu monstro", você diz.
Daí então você continua marchando sobre as nuvens com o teu novo combustível chamado orgulho com válidade máxima de uma semana e finge por uns dias que tá tudo bem.

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