17.5.11

Sobre desalcance

É como quando era criança e se ajoelhava na areia quentinha com o picolé pingando nas mãos e devorava tudo como um monstrengo descontrolado e ninguém entendia tamanha ânsia.
É como quando gritava que esse era o melhor picolé do mundo e a voz saía descompassada e cheia de esganiço  e a imagem que passava de si pro mundo gigante girante ao redor era a de um pobre coitado(zinho).
É como quando espiava a brechinha que aparecia do palito de madeira que ia surgindo pelas beiradas e percebia que mais uma vez o prêmio prometido na embalagem ficaria só na promessa mesmo.
É como quando diminuía o ritmo das mordidas para dar mais tempo do universo voltar atrás na decisão e mudar as letras gravadas na haste; como quando poupava o máximo possível, e daí lambia com mais amor - talvez fosse isso que faltasse!: mais amor...
Mas não.


[Vamos combinar: não queria o picolé.
Eu sei, não queria também o prêmio.
Só queria o retorno, acho.
Só queria ler alí "você ganhou.", seja lá o que fosse que tivesse ganhado - era o mínimo, depois de tanta dedicação.
Mas nunca que vinha nada disso, era sempre a mesma coisa.]

É como quando o momento chegava e não havia mais nada a ser feito exceto jogar fora o resto irrelevante da sua preciosidade.
É como quando no dia seguinte amanhecia cheio de esperanças, o peito tremelicante, estufado.
É como quando pensava na nova estratégia, aquela que dizia que o melhor era desdenhar do que pudesse vir a ser o prêmio e de repente ele viria assim.
É como quando decidia heroicamente se virar ao avesso como prova de que faria o que fosse necessário.
Mas aí é como quando não conseguia impedir as aceleradas cardíacas na primeira mordiscada.

É agora frustrante como era sentir o fracasso e o descaso.
É uma situação desgraçada e engasgada essa de quem a onda sempre chega perto mas nunca toca os pés e daí fica lá esperando ter mais sorte da próxima vez, esperando pra ver se a maré vai subir.

A mesma praia... a mesma rejeição vestida de outras vestimentas.

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