10.6.11

Sobre partidas

Existe essa sensação de abandono quando a gente se retira do pórtico de entrada por alguns minutos e quando retorna a chuva já foi embora.
Não é conforto, é abandono.
É como se fosse uma vingança: você se foi e não havia mais razão pra ela ficar.
Daí dá uma vontade louca de sair correndo porta a fora gritando que "Querida! Foi só brincadeirinha!".
Você não sabe pra onde ela foi, você não sabe se ela realmente foi pra algum lugar ou se só ficou invisível aos seus olhos.
O que você sabe é que se você não tivesse ido ela também não teria.
E antes arrependimento matasse mesmo!

Mas você sabe (e sabe que sabe) que ela vai voltar.
Bem aí vem a pior parte: por outro lado, você não sabe quando.
[E se existe uma pergunta pior que "se?" é "quando!?".
O se é desconsolado, enquanto que o quando é o desespero da ansiedade.]
Pode ser que ela volte agora mesmo - quem sabe isso que te atingiu gelado na testa ao invés de ser o pingo final não seja um pingo inicial? -, pode ser amanhã, pode ser semana que vem.
Ou pode ser que tuas terras atravessem uma desgraçada de uma seca.
Pode ser...

E se for? Daí você pensa na ida da chuva como quem pensa, quando perante a morte do amado, que suas últimas palavras foram sobre o cheiro estranho do sanduíche, sobre o preço da gasolina.
Dói a você não ter saído pra se refestelar no epílogo.
E é só pensar em não ter aproveitado que bate uma sede incurável!
Bate um calor, bate uma ânsia, bate uma desidratação.
Você chega a se agachar no meio fio pra lamber o restinho de poça que sobrou no chão.
Mas aí bate saudade.
E saudade é sentimento - ao contrário do que se pensa - mais pra frio que pra quente.
É sentimento que faz esvaziar tudo, todos os impulsos e fica só um nó tão transparente e tão impalpável que você só sabe que ele tá lá mesmo porque é apertado demais.

Quando a saudade termina de bater o que vem depois é um certo desleixo.
Você pensa nesse momento é que, por pior que seja, não poderia ser de outra forma.
E se pudesse ser de outra forma, você não iria querer. É isso mesmo, você não iria querer.
Porque se não te faltasse a presença da chuva, te faltaria a presença da ausência dela.
No fim das contas, você pensa, dá no mesmo!
E no fim das contas você sempre pode pegar um trem e ir procurar ela mais lá pra perto do mar... em tese.

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