24.6.11

Sobre teus muitos "sobres"

Há essas lembranças flutuantes algures nos teus pensamentos. Elas não te parecem muito reais, mas você revive como se fossem e tenta não se preocupar.
Há esses helicópteros, o som deles,  e há o vento que eles fazem.
Há então uma quietude no topo do prédio onde você se encontra.
E daí o prédio vira o fundo do mar, e você que olhava pra baixo agora olha pro alto.
Você tá sempre olhando pra baixo ou pra cima, você sempre quer escalar ou pular.
Você é desconsertante, desconsertado. Quebrado, mas funcional.

Há essa realidade se contrapondo à sua realidade do pijama e das cobertas precipitadas (por falta de melhor opção).

Tudo está absolutamente como deveria estar, bem ao modo de Babuc, mas teu vício pelo cinzento fala gritado numa hora dessas e tudo o que você precisa para fazer com que cale é procurar uma farpinha solta... uma só que seja.
E você sempre encontra, é inevitável! Elas estão todas lá, o tempo todo, esperando para serem encontradas.
Se você passa a mão de leve não sente, mas basta um pouco mais de pressão para que se revele uma das grandes.
Bem aquela... justo aquela!
Talvez seja sempre ela... mas você não quer pensar sobre ela hoje, você não quer sentí-la e quando decide isso tira as mãos do chão e leva aos cabelos.
Se ocupa coçando uma pereba inexistente e tenta voltar a pensar nos teus helicópteros e teu prédio e teu fundo do mar.

Tua cabeça é um circo nesse ponto da noite.
Pensamentos de todas as espécies te atingem por todas as direções - você não sabe mais quem é você.
Ora você é o andarilho na corda bamba - corajoso onde não deveria - e de repente, quer queira, quer não, se pega aos rugidos desesperados; a fera dominante, domada por uma coisinha chicoteante qualquer.

Qual o sentido disso, afinal de contas?
Qual o sentido da dualidade? Porque tua cabeça duela consigo mesma pra tomar uma decisão?
O erro do duelo de um só é que, não obstante a vitória certa, há também a facada certa no estômago como um bônus irrecusável - isso porque não é possível degolar-se a si... talvez fosse mais fácil assim!

Você se perde nos modos variados com que pode um algo aniquilar-se a si, com trejeitos medievais.
Você ri, pela primeira vez em vinte e quatro longas horas - horas que, agora que chegam ao final parecem ter passado até rápido demais.
Novamente é você na indecisão.
O tempo passa rápido ou o tempo se arrasta?
E o que é que é o tempo!?
Essa questão sempre te assustou como pouca coisa o fez.

E o tempo, o tempo é real não é?
E mesmo assim é mais louco que qualquer idéia, por mais insana que seja, que pudesse te ocorrer no mais desesperado dos teus dias.

O fato: a tua realidade é tão absurda, tão incoerente, tão inconsequente, depravada, deturpada, invertida, errada e zombeteira quanto o elefante dançarino sobre a bolinha de gude das tuas memórias alucinadas (ou alucinações recordadas, você ainda não decidiu).
A única diferença talvez seja que a tua realidade é crua.
Só isso.
O mesmo peixe, mas frio.

Há quem goste de sashimi.
Já você tem seus dias de "pode ser" e seus dias de "não aceito outra coisa" e seus dias de "nem pensar!".

Você tem seus dias de repulsa pelo cru e é nesses dias que, involuntariamente - como num sistema automático de defesa - teu sistema nervoso procura desesperadamente por uma lembrança inventada, marinada, delicadamente trabalhada no banho-maria nos teus 21 anos de existência. - helicópteros, prédios, fundos do mar, balões, barcos, cerejeiras, fogos de artifício e temporais acolhedores.

E aí fica tudo bem... só é importante - você ressalta para si mesmo - tentar evitar que lhe ocorra a verdade dolorida de que peixe é peixe: seja vivo, morto, do avesso, pendurado num pé de goiaba, estraçalhado, digerido (e devidamente excretado) e o que mais tua criatividade for capaz de fazer com ele. Peixe é peixe.

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