16.7.11

Homem ao mar

E em determinado momento da travessia você caiu no mar.
Você talvez tenha se jogado, você talvez tenha sido empurrado, você talvez nunca tenha estado dentro do barco de fato; mas agora é você tendo consciência do seu corpo congelado no meio do Pacífico.
O enorme transatlântico o qual você acreditava com toda a fé do mundo ser parte fundamental agora segue à sua frente. Às vezes tão à sua frente que você sequer pode vê-lo! Você sequer pode ouvi-lo, sentir o cheiro da graxa.
Às vezes ele vai à sua esquerda, às vezes à sua direita, às vezes atrás de você.
Mas você não sabe, por que afinal como você saberia com tanta névoa pra te tornar um pobre diabo cego?
Na sua cabeça, ele está sempre à sua frente.
E é pra lá que você nada... ou pelo menos tenta.
É pra ele que você dá suas maiores braçadas, as mais eloquentes, as mais otimistas, as mais ingênuas.
É pra ele que você desprende toda a sua energia, uma energia que você nem sabe de onde vem...
Só que às vezes ela acaba.
Só que às vezes você precisa de descanso, às vezes você precisa se estirar numa daquelas espreguiçadeiras confortáveis perto da proa e deixar o navio te conduzir com cavalheirismo, aquele cavalheirismo cheio de galanteios que te prometeu o folheto.
Às vezes você precisa disso e é por causa dessa necessidade (uma saudade adornada com choramingos infantis) que você acha que um dia esteve à bordo.
Não fosse isso, essa fome, você não teria nada que te fizesse pensar dessa forma, você sequer pode se lembrar quais eram as cores do casco! E qual é que era mesmo o nome do dito-cujo?
Será que era "O Paraíso"?
Será que era "A Liberdade'?
Será que era "O Felizes Para Sempre'?
Você se confunde todo... você não sabe mais o que é filme e o que é a sua vida.
Você pára de nadar e você afunda um pouco.
Após os três primeiros goles nada espontâneos de salmoura você acredita que é verdade, que você é o protagonista seja de que diabos de história for essa.
E aí você continua nadando, porque é isso ou não é nada.
E o nada vai vir de todo jeito, você querendo ou não, um dia... daí você decidiu deixar que ele viesse por conta própria mesmo, amanhã, daqui a uma semana, daqui a um mês... mas agora não, obrigado.

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