19.7.11

Sobre o movimento das nuvens VI

Dizer-se-ia, em tempos como aqueles, que dizia eu coisas flutuantes de compasso inconstante sobre outros tempos ainda mais remotos; dizer-se-ia que era eu tal coisa e eu mesma era outra coisa que nem eu e nem ninguém jamais pudemos imaginar.
Poder-se-ia dizer, por exemplo, que era eu a garota sob a coroa, de cetro na mão esquerda tentando fazer coração se (con)centrar em bater direitinho. E eu era muito mais.
Poder-se-ia dizer que era eu garota sobre as nuvens, de pensamento solto, voando pro lado que batesse o vento. E eu era mais ainda.
Agora se pode dizer o quê?
Que se pode dizer, em tempos como estes, que canto eu sempre as mesma notas, sempre no mesmo tom? - como a criança que pratica pela milésima vez a escala do sol maior.
E o sol se vai, e a minha escala do sol fica.
E cala o mundo, a escala do sol permanece.
Dizer-se-ia, em quaisquer outros tempos, que era eu constituída de vastas pradarias, que meu reino se estendia, tendente ao infinito.
E agora diz-se o quê?
O que é que se diz agora do meu reino?
Meu reino não é mais meu, e eu deixei de ser rainha de fato e passei a ser só rainha de nome: Rainha, a mulher do Rei.

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