7.7.11

Sobre romance

Nós descíamos a Quarta Avenida em plena velocidade.
Nós ignoramos a chuva e nós ignoramos o vento.
Nós éramos mais que humanos.
E os humanos de verdade passavam todos despercebidos pelas nossas adjacências: eles não eram nada além de um borrão indigno de memória, indigno de uma olhada mais demorada.
Aquela era a nossa Quarta Avenida, o nosso mundo.
Uma avenida pra dois, na medida exata... e ai de quem quisesse ocupar a nossa calçada também!
Nós aprendemos a atropelar os invasores do que era nosso sem piedade.
Alí só existíamos nós e o concreto que se apresentava para que dessemos o próximo passo.
E nós pisávamos firmes, quase numa competição pra ver se quem tinha mais certeza - certeza sobre o passo, sobre o ritmo, sobre a felicidade que repartíamos - era eu ou você.
Nossas pernas doíam com tal brutalidade que a cãibra que chegou foi bem vinda.
E nós ríamos até disso! Até da cãibra...
Qualquer casca de banana se tornava um motor de propulsão, a vida era bela.
Nós tropeçávamos com constância mas nunca nos espatifávamos ao chão: eramos o escudo um do outro. Éramos um aglomerado de sentimentos juvenis à prova de bala.
Irrefreáveis, eu e você... nós éramos irrefreáveis.
E agora pensando sobre isso vejo o meu erro: jamais deveria ter largado mão do meu freio, do meu retrovisor, porque pode ser que eu tenha corrido rápido demais, pode ser que eu tenha perdido o passo, e a verdade é que virei uma certa curva e não tinha mais braço nenhum pra aparar a minha queda.
Desmoronei.

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