5.9.11

Do Moço e da Moça X

O Moço olha pra Moça com atenção.
O Moço sempre fez assim, desse jeito meticuloso: dos cachos derramados sobre os ombros aos pezinhos angulados...
O Moço sabe a moça de cor e salteado.
A Moça já percebeu o Moço também, ela disse "oi".
E enquanto "oi" foi o suficiente pra ela, pra ele o "oi" foi só o prelúdio de um algo que ele ainda aguarda.
Só que pra moça o "oi" foi o começo e foi o fim, e ela virou a página e ela fechou o livro e ela tem coisas melhores pra fazer que prolongar o diálogo com o tal do Zé Ninguém lá de baixo: a Moça vê a Lua.
A Moça vê a Lua com toda a tenção do mundo - atenção essa até maior que a que o moço tem com ela.
A Moça idolatra a Lua de uma forma superior a qualquer sentimento humano.
O Moço às vezes acha que a Moça É a Lua.
E deve ser por isso que brilha e deve ser por isso que ele nunca vai alcançar.
Os cachos e os pezinhos, as quatro fases, os movimentos silenciosos, o lado escuro... Tudo se mistura aos olhos do Moço perdido que agora além de si mesmo, perdeu também o chão.
Ou a Lua e a Moça são a mesma coisa, ou uma das duas é só um reflexo que ele inventou por querer demais que existisse.

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