26.10.11

Gueixa de três segundos

Fiz um monte de poses, prendi meu cabelo num coque alto.
Caminhava por uma rua estrategicamente estreita, a passos curtos e premeditados.
Meus pés mais deslizavam, delicados, que se erguiam do chão.
Aprendi a sorri pelas beiradinhas da boca...
Meses de treino pra tudo isso.
Pra "tudo" isso.
Hoje minhas mãos mal conseguem erguer uma xícara de chá sem estrangular-lhe até que se exploda em cacos que me matam de vergonha.
Hoje tropeço, despenco.
Hoje meu coque pode ser visto de perto e não passa de um nó.
Não tenho mais fôlego para lhe acertar os fios soltos, nem para fingir que deslizar me é natural.
Hoje sou pedra que trota, pele rígida cheia de asperezas.
E logo logo hão de me chutar da ruazinha estreita, que nela já ocupei espaço demais.

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