30.4.12

Claustrofobia

A cabeça pende solta no pescoço, murcha.
Tipo uma flor outonal, o peito que se vira pro chão reverente à gravidade.
Todas as coisas estão no chão.
A garota olha pros cacos dela mesma e os cacos teimam em se refletir mutuamente.
Todo o espaço, toda a realidade, tudo.
Tudo são os cacos.
E se os cacos são a garota, então a garota é tudo o que há...
Na sala sem porta de paredes cobertas por espelhos o que é externo é inexistente, é incogitável, e o universo é infinito e escancarado. Um abismo.
O universo dessa sala é uma visão embaraçante e a boca da garota sangra em aflição, é isso que acontece.
E aí os cacos sangram e aí a sala sangra e aí o universo inteiro sangra junto.
A garota percebe que todos os movimentos e todas as imagens, que tudo é ela e por isso tudo é um esforço inútil.
Não há comunicação.
O cabelo da garota se derrama pelo chão feito fosse caco de vidro ou lágrima (ou ambos). Feito fosse sentimento.
Tudo no singular.

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