8.8.12

Diário de calçada e companhias desprezíveis


O amplificador no máximo e tudo o que ele amplifica é o silêncio.
É essa mania que as coisas têm de salientar ausências...
Catalizar fins.
Ficou aquela sensação ilusória do cara que passou umas boas cinco horas na escada rolante e aí quando foi subir a normal não soube como agir.
Todas as sensações, para o bem e para o mal, são desconsertantes nesse momento.
As mãos não sabem se se apoiam no joelho, se seguram a cintura ou se pendem frouxas no canto do corpo.
Tudo parece idiota.
Um pouco de vinho e a cabeça não quer ficar de pé no pescoço, nada quer ficar de pé, nenhuma perspectiva, nenhuma boa vontade, nenhum entusiasmo.
Me avisam de um rato morto no chão, mas eu não sou mais o tipo de pessoa que sente nojo das coisas nojentas.
Ao contrário: sinto nojo das coisas que não são nojentas mas que me assustam mesmo assim.
Nunca sei o que esperar de um passarinho vivo que dá bicadas e a própria vida dele transcende o meu entendimento. (Ele me faz lembrar de mim.)
Mas o rato não. O rato é algo que eu posso entender.
Olho para o rato que deixou de ser criatura para ser só uma coisa.
As coisas são um conforto e um descanso.
É isso... preciso de um descanso... um descanso do que é complicado demais.
Me sento na calçada do lado do ratocoiso, segurando minha taça pela metade, esperando ter alguma razão para fazer um brinde com o vento.
A calçada sempre foi minha casa, de um jeito que não é casa de mais ninguém.
Fico de mãos dadas com um cachorro, com uma pedra e com o próprio meio fio.
[Um insight: um brinde aos animais, que têm os dedos das patas tão colados e incapazes de dar mãos quanto os dedos das minhas.]

Um comentário:

  1. espero que isso que é tão latente no que você escreveu, comece a ir pra sua vida prática. a rua, o rato, o vinho.

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