22.8.12

Diário de Calçada e Toca

Eu fiz um vulcão nascer do chão porque eu precisava de um lugar pra morar.
Da boca do meu vulcão nascia grama e terra e besouros dos mais banais.
Da boca do meu vulcão eu nasci de novo.
Ninguém pode chegar no meu vulcão, só eu e o vento.
E o vento sempre foi bom de prosa, melhor que qualquer projeto de gente.
Perguntei pra ele que que era isso que agora me paralisava e não me deixava mais andar, que que era isso que me vestia feito armadura de chumbo e prendia meus cílios uns nos outros pra eu não poder ver.
O vento disse que isso na terra dele se chama tristeza.
(Fiquei pensando onde é que fica a terra do vento. 
Sempre achei que ele fosse um deslocado tipo eu.)

Da boca do meu vulcão eu olho pra fora de mim e vejo o céu.
Mas o céu reto de azul é uma lixa pra alma, é enfiar a cara da alma direto numa lâmina de aço.
Um céu assim sem nuvem é um desperdício de atmosfera...
Um desperdício de sentimento climático, por assim dizer.
O céu pra ser bonito precisa estar sempre juntando lágrimas pelos cantos, fazendo montinhos de pré-chuva branca pelo passar do dia...
Que se não é assim ele me assusta tanto quanto as gentes de olhos secos que rastejam pelos metrôs.
(Nunca vi besouro de olho seco, nunca vi grama de olho seco...
Mas já vi sabiá chorar pela goela.)

Hoje eu quero que a boca do meu vulcão me engula pro estômago da terra.


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