17.9.12

Diário de Calçada e Jardim

Os galhos extremos da dama-da-noite se enfiam pelos entrecruzados de uma pérgola.
Não há mais os absolutos. Tudo, nada, nunca e pra sempre são mitologias baratas.
Um cheiro forte de manacá luta pra se sobressair. Há sempre uma intensa e dolorosa luta por todos os lados, até entre os cheiros. (Ou os olhos do carniceiro é que enxergam as coisas assim.)
Vejo os abutres voando magníficos e burros. Sempre aos círculos eles fingem que sondam.
Já não tenho mais coisas a dizer, toda a temática de uma vida soa estraçalhada pela banalidade.
A banalidade é feito franco-atirador que vai destruindo as verdades uma por vez quando a gente menos espera.
Há quem entregue a alma a um deus, a quem entregue ao diabo. Vá lá, tanto faz.
Eu ergo a minha bandeja já sabendo que não há quem se interesse.
Um cheiro forte de passado...

[Estive pensando em toda a minha canalhice em potencial.
A gente já é culpado só por ter nascido com potencial de canalha ou é só depois que a gente usa que a gente merece o cadafalso?
É que eu nasci cheia de talento..]

Quero ser a pérgola violada pelo movimento lento da natureza.
Quero desaparecer dentro do silêncio, como que se o silêncio fosse um manto protetor.
Presa que não é vista não é pega.
Presa não é caçador. Não quero ser caçador.
Quero ser a base da cadeia alimentar do mundo.
Homem que come bicho que come mato que come pérgola. - Eu quero ser a pérgola.

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