5.9.12

Halo Preto

Acordei pra vestir o meu Halo Preto.
É obrigação do homem ser lúcido ser clarividente ser saudável ser feliz ser... ser.
Eu tinha jogado meu Halo Preto numa gaveta da memória, porque meu Halo Preto - diziam - fechava meus olhos neles mesmos. Pensei que isso era uma doença das grandes, porque me falaram que era.
De mesmo modo, meu coração sempre foi fechado nele mesmo, mas do momento em que resolvi remover as trancas ele parou de funcionar.
(Tem coração que só funciona fora da realidade.)
Passei a pensar, pensar, pensar. Só. Querer ver...
Exigiram que nascesse a estrategista no lugar da "songa-monga" que era eu.
Daí me forcei tanto a ver, que meus olhos arregalados saltaram para fora e saíram rodopiando pelo mundo e vendo tudo às tortas maneiras. Eu vi sim: um monte de delírios.

[A ganancia dos olhos gera os maiores cegos, agora eu sei.
Não quero ver. Não quero pensar. Não quero saber.
Quero sentir.
Mesmo que sejam sentimentos que flutuam neles mesmos e que nunca vão me dar nada em troca...
Tanto faz...  Não quero nada, não quero ter nada.
Quero sentir.
E ser idiota, se esse é o preço.]

O Halo Preto me faz parecer a criança surda brincando de gato mia (nunca vai ganhar)... mas é que talvez eu seja mesmo.
O Halo Preto não é o que me cega - a condição de ser humana é que o faz -, o Halo Preto é só o que me permite viver conscientemente essa cegueira que eu não posso deixar de ter.

Humildade é se permitir percorrer um caminho que provavelmente não vai dar em nada, mas que é o nosso mesmo assim.

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