"Essa razão universal,
prática ou moral, esse determinismo,
essas categorias que explicam tudo
fazem o homem honesto dar risada."
- Albert Camus
Você desce pela margem seca das pedras. Existe um apito ecoando no fundo de todo bosque , constantemente, sempre numa frequência que o cérebro do homem civilizado foi ensinado a ignorar.
Mas você ouve.
O Absurdo sonda aos despertos como um lobo faminto a presa.
É pelo lodo das vias principais - as vias demarcadas pelos fazedores da história fabricada - que o ser humano adestrado desce pela vida, deslizando desleixado sobre uma lâmina de papelão.
Ah, se ele abrisse os olhos!
Veria a reinante falta de sentido, debochada, sentada nos ombros dele e fazendo a gravidade pesar mais que devia. Ele nunca vai saber porque é que dói.
Você desce pelas valas laterais, ensurdecido pelo apito do caos.
Só ele soa, o resto se cala.
Se você ainda pudesse fechar os olhos escorregaria pelo lodo também, e poderia imaginar o que quisesse... sonhando, sorridente, humano.
Mas você vai descer pela vida no ritmo de quem está chocado, perplexo. Sempre vários passos atrás dos demais - como que se a velocidade fizesse alguém subir ao invés de descer!
Você vai descer pela vida engolindo seco, encarando com as sobras de um olho os olhos inexpressivos do Absurdo.
Com o olho que sobra você contempla o céu.
Com o olho que sobra você contempla o céu.
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