17.12.13

Enquanto eu descia a rua ladrilhada de diamantes duas aves gigantescas sobrevoaram minha cabeça lançando suas silhuetas contra as silhuetas das árvores do topo da montanha até que tudo se fundisse em uma só camada de desconhecido.
Eu queria nunca ter descoberto o véu de sol que recaía sobre o fundo inteiramente negro; queria que a majestade do engano e das ilusões ainda vigorasse para que eu pudesse chegar à raiz da rua com os dentes a mostra e tivesse vontade ainda de comprar uma pipoca e uma garapa, de me sentar no banco atrás do chafariz e ter a infantileza de olhar para o rio imundo imaginando peixes.
Um homem me pedia um isqueiro e eu tirava do bolso o bic branco enquanto pensava que talvez esse fosse o único tipo de camaradagem que eu ainda fosse capaz de ter - um vazio sem comichões atravessava meu peito, como as aves haviam adentrado o nada meio segundo atrás.
Para um homem que não é sozinho até um rato é companhia; já para o outro... para o outro, você sabe, nada pode mudar isso.
Os homens amigos dos ratos, eles falam sempre do silêncio que vem antes da tempestade, o pré-silêncio, mas ninguém pensa no silêncio que vem depois: um silêncio que parece um espelho pesado enterrado no fundo abissal, um silêncio esmagado por uma gravidade alta demais...
E a questão de todas as questões é que no escuro um espelho não é mais um espelho já que perde a capacidade de refletir e eu fiquei parada olhando para ele até que nós dois sumíssimos e aí é que está, porque depois que eu desacortinei o sol eu acho que eu meio que parei de existir também.



Nenhum comentário:

Postar um comentário