1.3.16

O mundo inchou! Sua pele fina transparente marca os contornos dos corpos que se espremem lá dentro. Num mundo inchado assim, ninguém é ninguém, tudo é nada.
Eu queria me sentar num tronco de carvalho velho e pensar na vida mas naquele tronco já tem gente e no outro também e ninguém tem tempo pra pensar mais na vida.
Eu queria que o mundo arrebentasse e os corpos fossem liberados no espaço sideral e ficassem cada vez mais distantes uns dos outros, cada vez mais rarefeitos até que um dia estivessem tão separados que para cada um só existisse ele mesmo e ele pudesse se olhar no escuro e ter tempo pra se pensar novamente - porque também o tempo lá passaria tão diferente! talvez o tempo lá não passasse.
Eu queria que o espaço pra gente existir se multiplicasse várias e várias vezes e as cores fossem o suficiente pra cada um ter a sua própria e cada um tivesse um nome pra si que ninguém mais teria: cada palavra seria ela sozinha pra significar uma coisa única, como todas as coisas são (únicas).
Nossos nomes são números em uma grande máquina registradora e significado não é mais importante e se fosse também não faria diferença enquanto não houvessem gentes capazes de ler importâncias...
No espaço sideral meu corpo se dissiparia como um dente de leão soprado, mas eu ainda existiria na memória de alguém como mais que um número: eu seria a soma das minhas atitudes, minhas expressões faciais e todas as coisas que eu já sonhei. Eu queria que houvesse uma palavra pra isso.

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