15.11.09

O Portão de Ferro do Fim da Rua

A 200 metros de distância eu podia vê-la parada de frente para o grande e enferrujado portão de ferro do fim da rua.
Era apenas uma criatura minúscula ao longe e eu só soube que era ela porque só ela ainda se preocupava com aquela peça fracassada do cenário urbano em que vivíamos.
Quando cheguei mais de perto senti um impulso de perguntar por que ela nunca havia tentado abrir o portão.
Ela me disse sem que eu precisasse perguntar.
Disse que preferia ficar do lado de fora e imaginar o que havia dentro, porque certamente dentro não teria nada melhor do que ela havia imaginado; na verdade deveria ser muito pior. Então ela preferia ficar de fora, para nao se decepcionar.

Um dia passei sozinha por lá e resolvi abrir o portão: 5 metros quadrados e nesse espaço apenas uma caixa de papelão vazia.
Quando vi imediatamente pensei "Ela tinha razão".
Sentei-me na caixa para pensar na vida e fiquei de frente para a rua de onde vim.
Nunca tinha visto o caminho que traçava todos os dias por esse ângulo.
Era incrivelmente bonito como a rua fazia um "S" subia a montanha e então desaparecia no horizonte.
E era incrivelmente reconfortante ter podido ver dalí o que sempre vi de lá.
Me senti feliz com essa nova perspectiva em mente e fui embora sendo mais do que era quando cheguei.

Um comentário:

  1. gostei, gostei :}
    a gente acaba sempre querendo viver do que 'seria' em vez do que é. Claro, é muito mais divertido sonhar do que viver. Quando em vez descobrimos que a vida é muito melhor do que parece, basta olhar de um outro angulo.

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