8.4.10

A gente, que quer céu azul.

     "Tão logo desabem as nuvens, tão logo mostrar-se-á o céu", e apontava pra tempestade guardada pra algum dia desses aí, desses em que nós não temos guarda-chuva, desses que nós só temos pressa e tênis furado que é pra molhar fartamente as meias.
     "E se caírem já, deixe cair todas de uma vez só!", e abria os braços pro céu, que era pra receber as nuvens, mas as nuvens continuaram paradas lá no infinito intocável; ele só recebeu a brisa fresca, e assim então continuou o discurso como quem tivesse experimentado a força bruta fácil das palavras só faladas no vento fresco que nem de perto já sonhou em ser trovoada: "E ao caírem as nuvens talvez você se afogue uma ou duas vezes..." e então a mão pesada sobre o meu ombro, como aquele amigo que só tem mesmo a mão no ombro a oferecer, como quem já vai embora que é pra não perder o trem.
     E continuou "Teus pulmões já provaram da água gelada?" e nem se quer esperou que eu respondesse, nem esperou que eu suspirasse, nem esperou eu descobrir, ele mesmo riu alto antecipadamente, pois, de certo, era o que faria quer eu respondesse que sim, quer respondesse que não, então pra que esperar eu tomar o fôlego?
     E botava a mão no peito como soldado saudoso, daqueles que sentem saudades de sentir saudades... da esposa em casa, talvez, mas isso é só o pretexto - e botava os olhos de novo no alto e largava um pouco deles por lá antes de me dizer severamente, com as mãos em concha: "Os cacos você recolhe com as mãos." E eu nem sabia que diabos de cacos eram esses, e nem precisei pensar muito. "Das nuvens, você sabe."
     Hum... das nuvens! Essa é boa! E nuvem lá tem caco? Como tivesse percebido os arreganhos de satisfação e zombaria que minha mente fazia, retomou então aquele pouco de olhar que ele esqueceu lá em cima, juntou com o resto e  jogou tudo em mim de uma vez só: "Espere só pra ver os calos e o sangue... eu que sei!" E eu? Eu não sei mesmo! Eu não sei mesmo de nada e não achei que essa história de nuvem que dá calo seja digna de minhas preocupações, mas fingi que sim, com os olhos aflitos, que era pra encurtar a história. "Mas você não se preocupe, que calo e sangue a gente cura, que calo e sangue vale a pena, que calo e sangue traz verão."
     Agora sim! Um belo sorriso e os dentes se mostravam todos duma vez, sem vergonha da velhice e uns minutos depois, que é pra concluir o sermão - sermão sem pé nem cabeça, mas cheio de olhadas auto-explicativas - o dedo se erguia forte e a voz profética:  "Tão logo despenquem as nuvens, tão logo mostrar-se-á o céu!" Um sorriso e de novo os olhos iam pro alto como quem tudo vê e os braços se abriam pra esperar os primeiros pingados, que caíram sem hesitar. Mas ai ele foi embora dizendo "As minhas tempestades eu já tive, agora é tua vez." e aí choveu em mim, só em mim.

2 comentários:

  1. POR FAVOR, PARÁGRAFOS!!! FICA MUITO DIFÍCIL DE LER TUDO JUNTO, AINDA COM ESSA COR VERMELHA FORTE CEGANDO QUALQUER UM ENFIM BEIJOS TE AMO

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  2. AHAHHAHAHAHHAHAHA!!!!!! foi um momento surtado, vou dividir pra você, ok??? tb te amo =D

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