29.5.10

Da Realidade da Realidade

A realidade não é de forma alguma algo palpável.
A realidade é uma enorme e infinita nuvem - a que tentamos tolamente e o tempo inteiro deter num frasco qualquer - com alguns pontos mais condensados que outros, alguns pontos mais opacos que outros, mas nem por isso mais existentes que outros.


A substância rarefeita no entanto, pode e é, muitas vezes, simplesmente negada, ignorada e motivo de zombaria pela maior parte do corpo cego chamado sociedade. Não obstante aqueles que blasfêmam contra a realidade do que é incomum, ainda persistem os chamados "lunáticos", em suas próprias realidades, nem mais nem menos reais que qualquer outra. Poderemos entender perfeitamente essa equidade de valores sabendo o que constitui a "nuvem" e é, em essência, bastante simples: ela é apenas o resultado de infinitas equações envolvendo nada mais que especulações pessoais minhas, suas e de todos os outros.

O grande problema é que ninguém é sábio o bastante para chegar até o resultado, mesmo porque para tal feito precisaríamos no mínimo conhecer todos os X's da questão, ou seja, absolutamente tudo o que existe.

Se, por alguma razão, quiséssemos saber a realidade da água, então teríamos que saber também a realidade de tudo o que envolve a água, mas para isso precisaríamos saber também a realidade de tudo de tudo o que envolve a água e assim por diante.

Alguns corajosos já se aventuraram no medonho emaranhado de contas sem números e, posso lhes garantir, morreram-se todos antes de chegarem a qualquer resultado confiável dessas subtrações do vazio, somas da completude, multiplicação do infinito e divisões do nada em particular.

Mas esses são casos extremos, não podemos deixar de lembrar que todos de alguma forma tentamos fazer os cálculos a respeito da nossa própria, pequena e ordinária realidade; isso acontece justamente enquanto estamos sonhando e então nossa alma se sente livre para penetrar a teia abstrata e aceitar o nonsense como páreo duro para o cotidiano no que se refere à probabilidade de ocorrência. É este o único momento em que o que somos e o que queremos ser se transforma plenamente em unidade; nem sempre dá certo, mas você poderia se surpreender se descobrisse o quão mais fácil é voar no universo rarefeito. Depois que descobrisse e aceitasse isto, então os sonhos com o irrestrito se tornariam mais frequentes. E então você começaria a se lembrar deles com maior prazer, sentado à mesa do café da manhã, e o contaria então cada vez mais satisfeito para sua totalmente incrédula e sonolenta esposa. A partir deste ponto, você passaria a sonhar acordado e cada vez mais seu chefe lhe chamaria atenção enquanto você tivesse acessos de riso durante o expediente.

A parada final seria o rótulo, então você sairia por aí embalado em um plástico fedido contendo uma etiqueta em vermelho: "Lunático".

E é exatamente isso o que todos tentam evitar o tempo todo, é por isso que os cérebros teoricamente mais astutos aprenderam a esquecer os sonhos assim que se abrem os olhos.
Não sei os outros, mas pensar nisso sempre fez meu estômago afundar e meu coração doer. Se morrem os sonhos que são, conforme constatamos, o resultado do que somos e o que queremos ser e o que tememos ser e etc e etc, morremos também de algum jeito nós mesmos, um pouquinho de cada vez.

E eu, que sempre tive medo de me perder e me despedaçar com o tempo, sempre tive também medo de perder meus sonhos.

Um comentário:

  1. Olá
    Uma amiga em comum que nós temos, me mostrou seu Flickr. Você faz esculturas lindas, é muito talentosa! =)

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