13.5.10

Lago Verde

Desse Lago Verde eu achei que tivesse algo a dizer.
Eu achei que devesse ter, simplesmente, já que, como só ele faz, me fez afundar tantas vezes que era só pra poder me emergir depois e eu sei disso.
Daí achei que devesse mesmo era garantir que nossa ligação ficasse registrada ao menos no papel já que eu olho pras minhas mãos e vejo ela se escoar por entre os dedos trêmulos. Ela se evapora. E aí o que me sobra da minha vida toda (dum segundo apenas) com meu Lago Verde?
É por isso que preciso expressar o "verde" do meu Lago Verde.
Preciso expressá-lo ao menos em palavras, já que as cores não bastariam.
Eu sei: o chamo "Lago Verde" porque me faltam adjetivos precisos.
Não é lago pois é mais profundo que um e mais pontual também; tem do mar as ondas e a circunferência fria dum poço de pedra.
E eu sei, bem sabido, que ele também não traz água! É de uma fluidez maciça, a densidade (e intensidade) do chumbo só que me escapa como ares rarefeitos cosmicos.
Mas o chamo "Lago", e pronto... e isso até que me satisfaz se for comparar com o que se segue: "Verde".
Que triste, é pra mim, ter que simplificar a tal ponto!
Primeiro de tudo porque fica a impressão de que o "Lago" é apenas verde e nada mais; ou, na melhor das hipóteses, que é sua característica mais relevante - e longe disso.
O meu Lago é de uma cor que os olhos de ninguém podem encontrar em nenhum outro lugar - e estou aqui pensando que talvez mesmo nele, só os meus a possam ver.
Talvez também seja tudo culpa do brilho!
Pois ele brilha tanto que acaba guardando muito de si por trás do reflexo do mundo todo...
Mas aí você poderia até pensar que ruim é ter que ver o mundo todo ao invés do interior do Lago Verde já que quando a gente olha pro Lago Verde quer ver o Lago Verde e não o mundo!
E nesse caso eu quero lhe esclarecer: quando a gente vê o mundo que reflete no brilho do Lago verde a gente vê o próprio Lago, que absorve a luz antes de vomitá-la e que, quando o faz, a obriga a levar consigo parte dos mistérios de seu leito profundo.
Eu sei: quando a gente vê o mundo todo que reflete no brilho do Lago Verde a gente vê um Mundo Todo, mas não esse... e sim aquele. O dele.
E aí quando eu olho a superfície calma do verde do Lago Verde eu não posso usar palavras desse mundo pra classificar o que não é desse mundo (posso querer apenas... e tentar.).
Eu digo que o Lago é Verde porque ao redor do lago vejo cores e minha boca precipitada as grita uma a uma: Vermelho, Preto, Branco.
Aí olho o centro e ela improvisa: ...Verde.
Mas me perdi!
Me vejo agora: estou aqui dando mil desculpas esfarrapadas! Estou te enrolando, caro leitor, porque eu mesma estou mais do que enrolada nisso tudo.
Porque eu sei o Lago Verde, mas não sei dizê-lo.
Eu só sei o que ele faz: me leva pro seu fundo num sussurro mudo e quando lá chego ele logo me expulsa antes que eu possa dizer que o conheço.
Daí quando eu chego na superfície eu sinto falta da sensação que sinto quando o canto calado (meio imaginado) me chama pra fazer parte da história que o fundo do Lago Verde narra aos seus.
[E, mesmo assim, sem poder dizer-me sua, eu ainda ouso por vezes dizê-lo meu.]

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