16.5.10

Minha intenção com a borboleta...

... era algo bastante controverso.
Primeiro de tudo eu decidi que a queria ter, e pronto. E isso já é motivo para ir lá e pegá-la - ao menos segundo a filosofia que eu havia decidido empregar em minha vida.
Veja bem, para quem nunca teve o que quis nem nunca quis o que teve, por qual motivo fosse, isso seria um grande passo (ou vôo!) em direção ao... hm... bem... ao lugar onde todos querem chegar, seja lá onde for.
O que quero dizer é que até então eu não havia feito nada por mim mesmo que envolvesse uma ação e não apenas uma reação, daí decidir que atenderia à minha vontade - fosse qual fosse - me transformava numa entidade até mesmo admirável, quando me via no espelho.
As outras razões...bom, essas eu não as sei bem, ou não quis pensar muito nisso. O fato é que eu deveria ir lá  buscá-la e prendê-la na jarra, com a tampa bem apertada, e depois veria o que fazer com ela.
Eu fui assim pro campo, onde o chão era de erva daninha e umas margaridas sufocadas. Não precisei de muito tempo para localizar meu objeto de desejo, não havia decidido qual tipo de borboleta deveria escolher então qualquer uma me satisfaria.
Vi uma pousada sobre uma rocha cinza e seu tom escarlate contrastava lindamente... me pareceu perfeita, eu a olhava e dizia: foi pra isso que eu vim!
Ela ciscava - tal qual um pinto, não porque de fato o fazia e sim porque me faltou a palavra certa! - qualquer coisa na rocha dura e eu a queria e ela alí tão quieta parecia mesmo que minha seria bem logo.
Primeiro eu nada fiz. Nem sequer sabia mesmo o que fazer... então só suspirei.
Foi com esse suspiro que ela me notou, o vento balançou suas asinhas e foi como ele lhe sussurrasse: Há alguém que te vê!
E aí ela olhou pra mim, com os olhos que eu nunca pude ver mas que de alguma forma eu sabia estarem lá e sabia estarem depositados em minha gorduchice despresível.
Mas ao contrário do asco que eu sempre soube provocar muito bem em tudo e em todos, ela me "quis".
Ela veio, três centimetrozinhos diretamente em minha direção, subiu em meu dedo! Mas quando eu quis levantá-la para que pudessemos nos aproximar, ela voou!
E que frustrante! Minha rapidez a assustou.
Mas pelo menos agora saberia o que fazer e na na próxima eu não iria errar. Assim, eu a esperei por três dias... pensei que voltaria, mas só a via ao longe - aquele pontinho vermelho sendo doce e lindo em outro lugar, pra outros olhos.
Cansado de ver de longe, eu resolvi descer o vale e tentar de novo.
Era um ambiente totalmente desconhecido para mim, somente o imaginava quando o via da janela, mas lá era ligeiramente diferente... diferente porque pululavam as borboletas de todas as cores por todos os lados e a minha perdida lá no meio.
Claro que eu a reconheci imediatamente, como seu já soubesse onde estaria, e me aproximei timidamente, os passos curtos e esporádicos como quem pergunta com medo de perguntar errado: Você se lembra de mim?
Ela nada. Por dois dias, nada.
Acordei no terceiro e era ela me beijando a face; apenas um "esbarrão", mas com um ar de intimidade que me encheu de alegria e eu logo abri os braços para retribuir.
Preciso mesmo dizer quão grande foi o vácuo em que fiquei?
Desde então se passaram 32 horas e eu estou, só agora, abaixando os braços.
Pela primeira vez desde que me decidi a tê-la penso em esquecer tudo isso, tudo isso que nunca foi, voltar ao fracasso... mas ao menos que seja real.
Nada de borboletas - por enquanto! - porque afinal eu só a queria porque a queria... mas não a preciso.
Se um dia ela resolver subir o vale pra me dar bom dia mais uma vez, talvez aí eu descubra se ela serve mesmo pra mim, e, se servir, descobrirei então pra quê.

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