10.5.10

Pé anti-a pé

Que eu posso fazer se estes pés aqui se recusam a pisar concreto quente? Que posso fazer se eles chiam, cheios de dores... se eles não aceitam o aperto dos sapatos?
Eu caminhei na estrada, por vezes corri, e nunca cheguei lá, ela nunca deu em nada - só em feridas.
Eu tentei andar nas águas mas daí virei pedra.
Meus pés  não gostam da água que só sabe evitar.
Eu tentei ser Ícaro e voei alto, mas sem asas: dei uma cambalhota e fingi que os poucos segundos de liberdade foram eternos.
Não bastou fingir com a mente... Os pés - de novo eles - só gostam da verdade e me foi impossível evitar sua reprovação.
Eu aí sentei e fiquei sentada.
Fechei os olhos e os caminhos tentadores, sumiram todos.
Confortável é certo que foi, mas só até meus pés se sentirem inúteis e quererem uma função.
Eu aprendi a ignorá-los... mas aí, de repente, pisquei ao contrário e ruas vieram até mim de todas as direções, até de dentro.
Eram de concreto sim, mas macio e frio.
[Não que de fato fossem...
É só que agora tenho calos.]

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