23.6.10

Poupar o que não tem

A Rainha pensava alto e em bom som que, em dias de Lua redonda como este, bem que seria bem bom poder dar um mergulho.
Aí sentava no que ela achava ser a beiradinha da Lagoa e cheirava.
Só cheirava, porque tinha medo de abrir os olhos e descobrir que a água havia se evaporado depois de tanto sol, ou que a Lagoa fica mais ao Norte, tão ao Norte que ela não teria perninhas o bastante pra chegar lá um dia.
Aí cheirava com força.
Mas enquanto cheirava, sentia muito medo de novo. Medo de estar cheirando demais e com isso, acelerando o processo. Deus que me livre!
Aí ela prendia a respiração também.
Aí então só ouvia.
Mas, coitada, o Lago por si só não chia!
Aí também, só de raiva, ela não ouvia nada, porque né... quem quer pio de coruja e vento que assovia?
Isso é barulho, algo completamente diferente do som. Isso pra não falar da música!
Nos outros dias do mês ela ousou atirar uma pedrinha e sentir prazer com o "ploft", que as vezes era "plif"... o ruim é que às vezes recebia um "pá" duro e inesperado (e muito inexpressivo, o pior de tudo).
Mas hoje era diferente, porque hoje ela tinha medo de não ter resposta.
Se não tivesse resposta ela teria que abrir os olhos e aí... imagina se ele evaporou mesmo? Pior! Imagina se ele fica mesmo mais pra lá? Tão "prá lá" que ela nem sabe onde é!?
Daí ela abriu mão das imagens, dos cheiros e dos sons porque era a única forma de garantir estar por perto do que pode ser que esteja longe demais.

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