26.6.10

Do que pesa

Prosepina se questiona sobre a dor do homem, a dor de que todos eles sempre falam que mas nunca realmente souberam dizer.
Eles só dizem que têm.
Mas Prosepina quer mais e um belo dia ela soube que, pelo menos a dela, era assim... um "troço".
E se ela se colocasse numa balança num dia mais cinzento ela tinha certeza que só um dedinho seu pesaria mais que um prédio.
Mas aí pensou de novo e viu que se lhe cortassem todos os dedinhos, nada mudaria.
Aí ela fez o teste e cortou todos os do pé.
Sangrou por várias semanas, mas ela deixou sangrar porque, tendo em vista o fracasso da primeira, surgiu em seus pensamentos uma nova teoria... a que dizia que seu sangue carregava chumbo.
Pena é que ela sangrou quase pela metade e nada mudou até que sentiu uma pontadinha em algum lugar lá dentro.
Não sabia exatamente onde, por isso ela mandou que a abrissem ao meio.
Ela esperava ansiosamente pela bola de canhão que o médico tiraria de suas entranhas e aí o coração poderia voltar para seu devido lugar.
Mas ele só tirou uns vermes de lá de dentro e também isso não fez o troço sumir.
Aí Prosepina que antes procurava, passou a só pensar.
Aí depois passou a só sentir.
E aí sentiu o troço como ele era: verdadeiramente um grande e pesado nada.
Aí ela pensava que esse nada ocupava nela muito espaço, tanto espaço que ela se perguntava se ainda sobrava alguma coisa além disso dentro de si.
Mas algo tinha que sobrar, e era esse algo que se perguntava sobre o nada, pensava no nada, sentia o nada...
Agora a questão era quanto de algo e quanto de nada compunha Prosepina.
Aí ela se mediu de todos os jeitos e ela tentou ser só algo por uns tempos e só nada por outros, mas descobriu ser essa uma tarefa impossível.
Desistiu de descobrir o "quanto".
Ela queria agora só saber por que.
Por que é que dói ser meio a meio?
Desceu as escadas e entrou no saguão onde pessoas haviam estado há algumas horas reunidas.
Em cima da mesa havia uma bandeja e na bandeja haviam três xícaras de chá:
Pegou a primeira, cheia até o topo, e esvaziou com 3 goles.
Pegou a segunda, totalmente vazia e empilhou sobre a anterior.
Pegou a terceira.
O chá repousava na altura de 3/5 da xícara de porcelana e Prosepina não soube o que fazer, só soube que aquele era nada mais que seu reflexo refletido na bandeja de prata:
2/5 perdidos (onde foram?) disputando com 3/5 desprezados (por que?) pra ver se é mais sofrível ser falta ou o excesso.
E aí Prosepina pensava que sofrível mesmo é ser falta e excesso ao mesmo tempo, todos os dias e em tudo.

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