19.7.10

Hot air for a cool breeze

Num dia frio qualquer, desses em que nos falta chocolate quente ou um bom pijama de flanela, Dorotéia apoiava os cotovelos na esquadria da janela e resmungava os versos finais da música mais batida de todos os tempos, enquanto esperava que o vento secasse seu corpo molhado, porque toalha não resolve o que está encharcado do que não escorre, não transborda, não se deixa penetrar e não transcende a si.
Dorotéia sentia as gotículas desse algo entre os dedos, na nuca, no nariz.
E o vento batia e o algo rebatia e o vento não tinha vez.
Aí ela (fingia que) não se importava e cantarolava pra Lua e contava pra uma menos-brilhante-do-que-deveria Betelgeuse como era ser uma das duas almas perdidas - ao que a estrela nada dizia, mas Dorotéia em dias carentes distorcia tudo e aí abaixava a cabeça quando lia no brilho de cinco pontas a possibilidade de viver num mundo que é aquário de um peixe só.

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