19.7.10

Sobre os remendos

Eu falei que era pra ela se poupar, porque eu aprendi já que portada na cara dói mais que janela fechada.
Aí eu me poupo.
Eu quero que ela pare de se gastar, de se esgotar, de se esvaziar.
Eu já vi ela se picotar uma vez... uma vez, não! Duas vezes... um milhão.
Ela mutilava um sonho, uma idéia, um carinho.
Aí ela jogava as lascas pra alguém, mas ninguém viu.
E a questão: Pra quem é? Pra quem deveria ser, isso daí?
Mas precisa de resposta?
A gente só quer gente que queira a gente.
(meio que) Qualquer um serve.
Daí a gente atira pro alto e espera o fogo de artifício abrir em flor.
Às vezes ele abre, mas o vendaval sempre vem e sempre carrega as sementes pra lá.... tão pra lá que eu canso só de imaginar.
A gente corre atrás uns três quilômetros e daí falta o ar e faltam as pernas e faltam as placas de sinalização. Daí a gente fica e daí ele continua.
Aí ele, uma hora, em algum canto, enterra tudo...
Em solo infértil, claro.
E aí nunca mais. Nunca vi uma dessas brotar.
Eu digo pra ela que não se gaste... "Porque um dia você acaba com você."
Que sobra pra quem se gasta?
O frasco cansado, estourado.
Aí quer repor!  E quer por que quer e reclama e espirraça e aí chora e se sente assaltada e põe a culpa no mundo e põe a culpa no vento e nas pessoas cretinas que sempre pululam por aí aos baldes.
Que dá pra repor, até dá... eu me repus algumas vezes...  com um punhado de semente alheia que o tornado trouxe de lá pra cá e daí largou em mim.
Mas eu já desisti disso, porque já cansei de me ver assim: a colcha de retalhos tentando descobrir o design original.
E se eu fosse me dar um conselho eu me diria: Pois acostume-se, porque a tendência é arrumar por aí  trapinhos cada vez mais irreconhecíveis para tapar os furos todos.

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