21.7.10

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A montanha de galhos contrastava com o único fundo que havia: um céu negro demais, mesmo sendo todo azul; um céu que não é nem do dia e nem da noite, um céu que não é nem da terra e nem do espaço. Mas tanto faz o céu, porque ele, mesmo nos dias mais iluminados, nunca foi nosso.
E, para ser mais direta, o que é que é nosso?
O tempo escorre, as pedras rolam, as vozes calam, a carne morre.
Tem gente que tira fotografias e se sente bem achando que eternizou qualquer coisa, que agora tem uma lembrança, pelo menos.
Nós tiramos doze delas antes de entender:
O céu era negro demais, mesmo sendo todo azul, e as fotografias só poderiam mesmo deter silhuetas e silhuetas enganam, e é por isso que nem sobre os galhos secos se podia ter certeza.
Tinha galho que parecia perna, tinha galho que parecia mão, tinha galho que parecia eu.
Eu fiquei na dúvida se eu era esta ou se eu era a outra, mas tanto faz... matéria engana tanto quanto sombra.
Acho até que ser galho deve ter seus méritos, e é por isso que a gente preferia que a montanha fosse mesmo de galhos... o mundo já tem "nós" demais.
Mas a gente não tinha certeza.
Uns achavam que a montanha era um espelho.
Mas achar só não resolve.
A gente descobriu que a gente achava coisas demais.
Ninguém tinha certeza se era dia ou noite, ninguém tinha certeza se o céu era negro ou azul, ninguém tinha certeza se os verdadeiros "nós" estavam aqui ou do outro lado do rio, entulhados sob um céu um minuto mais escuro que esse daqui.
Mas a gente ´também não tinha certeza se era um minuto ou uma hora.
A gente não tinha certeza se o pêndulo oscilava na mesma frequência... a gente sequer tinha certeza de que o pêndulo poderia oscilar sob um céu tão irreconhecível.
A gente só tinha certeza de que sob os nossos pés havia chão. Duro e seco, mas consolador.
E foi tateando a terra suja que a gente um dia chegou em um lugar onde o sol já havia nascido.

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