2.8.10

Café com leite


Passei tempo demais fazendo rascunhos pra minha vida.
Gastei todo o meu papel, meu grafite ruiu.
Só sobraram borrachas.
Toneladas delas...
(Insegurança!)
... É que eu achei que fosse precisar.

Amassei meus dias e joguei fora, porque eles eram só treino.
Me afoguei em bolotas de esboços e pontas quebradas.
Passei vários dias apenas apontando e apontando e apontando...
Como se fossem lanças, os lápis de cor.
Nos gastamos inteiros ensaiando para a batalha.
Depois nos organizamos na caixinha, os 36 em degradê.
Degradante: faltou espaço para mim.

(Tanto faz, não tinha ninguém pra ver mesmo!)

Limpei a bancada, mas nunca totalmente.
"Estou só quebrando um galho", eu repeti.
"Quando for pra valer eu... eu..."
E aí faltou a palavra.
Mas não faz mal, que quando for mesmo de verdade eu descubro qual é.

Nunca comprei um godê.
Usei papelão mesmo, porque era só pra testar a tinta.
A tinta acabou e eu nem vi.

Semana passada eu achei que tivesse ouvido finalmente o Gongo.
Eu disse:
"A próxima será pra valer."

Sábado me inspirei.
Domingo tive visões.
Ontem tive vontade.
Hoje me faltam recursos.

Recursos?
...
Que "recursos"!?

Artista que é artista, pra fazer arte, só precisa da alma.
Humano que é humano, pra viver, só precisa de coragem.

Agora o plano é revirar as gavetas pra descobrir onde foi que perdi as minhas.

Um comentário:

  1. Você costuma ser um pouco boa nisso de escrever, né? Seu melhor texto dos que eu li até agora, não sei se pela identificação ou pela qualidade, haha, espero que seja mais pela qualidade, cada vez mais pela qualidade.

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