24.9.10

Sobre a posse

Você sabe, as estrelas estão aí para quem quiser olhar.
Você sabe que elas sempre estiveram, você sempre soube.
Mas você não liga, você nem pensa nisso.
Você aprecia o espetáculo humildemente, no meio da multidão de mortais perplexos.
Você espera a noite chegar para poder exercer seu direito de contemplá-lo, lá no meio de todo mundo - você sabe, você é (só) parte desse todo.
Mas você não liga, você nem pensa....
As estrelas estão aí para quem quiser olhar. Você sabe.

Um dia as coisas mudam drasticamente.
Aquele dia de mormaço cansado e você de chinelo e moletom; aquele dia, que você tratou como uma espera qualquer, espera de qualquer coisa, exatamente como você fez com todos os outros.
Naquele dia, você se senta na beirada da praia, exatamente no precipício nada óbvio (mas particularmente inquietante) que separa a areia da salmoura, e olha o infinito com o queixo erguido e o peito estufado, mas com a alma de joelhos perante seu ídolo de veludo cravejado de diamantes.
Naquele dia despenca um desses diamantes, dos bem gordos, bem no meio das suas mãos.
Ele te queima, mas você gosta.
Você o aperta forte contra o peito, você o cheira devagar e seus olhos lacrimejam.
O céu te deu uma parte de si, mas você só vê o todo.
Você não aceita "mais ou menos", você sequer entende o que é isso.
O céu agora lhe pertence, por completo, e é bem por isso que no dia seguinte você acorda pensando qual seria a maneira mais fácil de cegar o mundo para tê-lo só para si.

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