16.11.10

Sobre mim

Foi bem assim: eu estava sentada no jardim dos fundos da casa da vizinha que estava viajando, só porque estando ela fora eu tinha nas mãos o poder de fazer o que não podia ser feito. Um tipo de covardia pintada de coragem.
Eu estava lá, já com o macacão jeans com manchas do tipo clássicas por todos os lados e eu apertava uma minhoca entre os dedos só para ver o que acontecia.
Não tinha grama, não.
Nem árvores eu acho, a menos que a gente possa contar uns dois vasinhos de um pseudo-bonsai em cima do muro.
Meu All Star um dia foi branco, e minhas tranças um dia estiveram impecáveis. Mamãe sabe bem como fazê-las, e eu sei bem como destruí-las.
E, talvez, seja por isso que por lá em casa faz algum tempo que andam me chamando de tudo quanto é coisa. Nos dias mais carinhosos, papai me chama de "meu monstrinho".
- Hum... monstrinho! -   e enfiei a mão na terra tentando pegar o último anelídeo que restava na vala, e eu poderia jurar!, tremendo feito vara verde, depois do meu minhococídio brutal.
Fugiu!
Eu levantei meu traseiro enlameado do chão e fiquei de gatinho escavando como um trator, sem qualquer sentimento no peito ou qualquer pensamento fluindo pela mente. Bem como um trator mesmo, dos grandes e amarelos...
Dois segundos e a coisinha já estava pulsando na minha mão! Aí eu esganei a desgraçada e depois ri toda a vida, deitada vendo o sol descendo por trás da montanha escurecida.
Ai eu peguei a terra e apertei também, com o triplo da força...
E que nada! Nada aconteceu, eu só perdi... ela escoou, e eu fiquei só com as mãos inchadas e uma droga de sensação ruim.
É que nada do que eu fizesse a ela provaria que eu estive ali. Quero dizer, eu poderia modelar a vontade! E deus sabe quantos mil bonecos de barro eu já ergui.
Mas eles são sempre barro, sempre terra e eu nunca sei...
Digo, uma minhoca morta apodrece e aí não é mais minhoca.
Mas e meus bonecos de argila!?
Bate um vento e eles são terra de novo. Aliás, ele vai sempre ser "um boneco de argila".
Por isso é que eu acho que é uma mentira, brincar disso, é por isso é que eu não brinco mais.

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