26.3.11

É como se você estivesse numa festa de gala trajando farrapos.

E você não é pobre nem nada, você poderia estar mais bem vestido que muita gente alí.
Mas você caiu alí assim, você não teve tempo.
Você queria dizer a eles... você não teve tempo.
Você queria se explicar...
Mas não tem desculpa, você sabe, eu sei.
E eles fingiriam que sim, mas não entenderiam.
Você quer se esconder, você não quer que ninguém te veja, te conheça, fale com você.
Você não quer que eles pensem que você é daquele jeito, você queria que eles te vissem como você é, com a roupa que você escolheu.
Você se sente grato quando um ou outro vem conversar, mas você nunca vai deixar de achar que eles irão te olhar de cima abaixo assim que lhes virar as costas.
E o pior é que eles teriam razão.
Você faz o mesmo, se conseguir reunir um pouco de coragem.
Você se olha dos pés à cabeça no espelho do banheiro e aí bate um cansaço... mais que um desespero, uma desesperança.
As vezes você sai de lá com a cabeça erguida: "todo mundo já me viu mesmo!" e fica a vontade.
Mas aí vai percebendo que quase ninguém tinha te visto ainda, e as cabeças começam a se voltar em sua direção. As cabeças que você realmente queria conhecer.
Você quer ir lá e quer cumprimentar, são pessoas legais, você queria trocar uma idéia...
Mas seus farrapos te fazem querer desaparecer, só e simplesmente isso.
Você queria que eles soubessem quem você é, mas tudo o que eles vão saber sobre você no final das contas é que você é "aquele cara doido com as roupas de mendigo".
Nada contra roupas de mendigo, estaria tudo bem se fosse uma festa de mendigos.
Mas naquela ocasião você só querer estar no zero a zero, só isso, estar no mesmo nível, ter uma chance igual a de qualquer outro.
E se a música toca e a pista se enche de pernas bailantes você quer dançar.
Você sabe que você sabe dançar, você sabe que eles iriam gostar... mas você se inibe.
Porque antes de ver teus passos eles vão olhar sua roupa.
Você sumiu dentro dela, você sumiu.
Você só queria que eles te vissem como você é... você só queria se ver como você é.
Você não tem pra onde ir, por todos os cantos surgem pessoas e puxa, o pior é que você adora pessoas.
Mas você sente que se apresentar a elas assim é destruir completamente suas chances de que elas te conheçam de verdade.
Às vezes você entra no papel, mas não tarda e engole o seco se lembrando saudoso da normalidade... porque só na normalidade existe clareza para se perceber as sutilezas.
E é disso que o homem é feito: sutilezas.
Sua roupa não é nada sutil.
Te afoga, te sufoca, te mata.
Você morreu, aquele dalí é outro.
É por isso que você acha extremamente injusto se apresentar aos outros convidados se chamando pelo seu próprio nome... a sua voz fica fraca e você não fala nada.
Você hesita; um passo pra frente, dois pra trás.
Você só queria se livrar da sua circunstância extravagante, você só queria ser você.
E que eles pudessem te ver...
Ah, se eles pudessem te ver..

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