31.3.11

Sobre o amor próprio que a gente devia ter

Não, não, lagartinha.
Não se rasteja não.
Olha só o gato como vai... de rabo empinado, por cima do muro, por cima do mundo.
Não se rasteja não, lagartinha, que ele nem te viu. (E nem vai...)
Ele só olha o gato, e aí, lagartinha, você olha pro gato também e tenta fazer "miau!" também, assim parecido com o dele.
Mas só te sai rouquidão, não é mesmo?
Eu vi...
Comigo também.
Só me sai rouquidão... e eu que queria dizer tantas coisas!
Eu queria dizer assim um "miau!" bem baixinho, bem pouco esforçado, e ganhar um afago dos bons, igual ao que o gato ganha. (E a mão se estica toda, e os pés na pontinha, só pra tocar o pêlo macio do gato que não está é nem aí...)
Mas aí pra gente só sai mesmo é ausência, só sai negação.
Frustração... porque os olhos se negam a ver nosso corpo coitado que se encolhe e se retorce sob o sol queimador, porque se recusam a ver lagartinha rastejando para ficar mais pertinho, o pouquinho que der pra ser...
E aí então é assim que é: lagartinha rasteja por horas e quando chega lá o sapato idolatrado se afasta pro infinito com uma única passada.
Que humilhante, lagartinha!
Que humilhação.
Lagartinha vai rastejando, como uma completa idiota!, sob os pés dele, por baixo do muro, por baixo do mundo.
Não se rasteja não, lagartinha, não se rasteja não que é capaz de ele ainda te pisar.
Vira logo borboleta, lagartinha, e vai embora logo visitar o céu onde tem nuvens carinhosas que nunca vão te dizer que "sim", mas que  também nunca vão enfiar sola de bota fundo no seu coração.
E,  se a tarde cair mais cedo, será possível vê-las a rastejar por todos os cantos, fingindo que miam baixinho, enquanto você desfila com suas admiráveis asas de cores mil.

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