1.3.11

Sobre becos sem saída

Dirão que é tudo sobre momento.
E o momento se escoa a cada levantar de pés para o passo a frente, e aí acaba, simplesmente, e o que a gente pensa que é o presente é na verdade apenas o gosto que restou num canto de boca.
Tem boca que sustém.
Se poupa, delicada, percorre espaços calados em si mesma buscando um restinho, por menor que seja, daquilo que já se evaporou faz tempo.
E o que é que é tempo mesmo a gente nem sabe.
Tem tempo que é presente, o tempo todo, e a gente tenta sair dele mas ele é persistente demais e quando a gente vai ver a gente foi embora junto num pulo só... tem tempo que é ausente, tipo aquele no futuro que a gente espera nas pontas dos pés na sacada e ele nunca que desponta no horizonte.
E o horizonte sempre a várias milhas de distância.
A gente corre gritando pra ele esperar que a gente já tá chegando, mas ele nem escuta (e eu prefiro pensar que ele é surdo do que que ele não me quer por perto).
E taria tudo bem se dentro da gente a primavera não se tornasse necessariamente ou ausente, só lembrança inconformada, ou gasta demais para que a gente possa continuar sentido cheiro de flor.


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