2.4.11

Sobre aceitar o clichê

Muito tempo se construíndo.
O tempo todo, eu diria.
E erguia justamente as cartas que (achava) nunca antes haviam sido erguidas.
Alinhava os astros de maneiras que fugiam à compreensão de qualquer um.
E o dois mais dois jamais deu quatro.
Se o céu dos outros eram um azul unânime, o seu era escarlate.
[e onde os outros viam céu sangue seus olhos só viam coração palpitante: "tuc tuc, tuc, tuc tuc, tuc" e daí a chuva.]
Derramou não se sabe mais quantas idéias rio abaixo, porque elas eram gastas demais, rotas demais, perderam o sal.
Daí se achava de vez em quando em cócoras no meio do mato procurando aquele pezinho de pimenta selvagem que ninguém ousou provar.
Às vezes achou que achou, mas hoje em dia acha que não.
Aliás, hoje em dia não acha mais nada.
Hoje em dia não procura, sequer.
E hoje em dia anda pensando que, sim, talvez dois e dois juntos caibam certinho entre um cinco e um três.

2 comentários:

  1. Cabe sim, porque mão é à toa que isso é o mais comum. Só que quase ninguém vê isso de primeira. Leva pelo menos duas décadas (e meia).

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  2. Ainda me faltam 4 anos pra ter coragem de colocar os dedos na frente do rosto e fazer as contas de olhos abertos.

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