8.4.11

Sobre deixar ir

Alguém tinha que dizer pra ele parar.
Porque o barco furou, ah, se furou!
Furou foi feio...
Aliás, um furo não.. um rombo!
Do tamanho da Lua... não, da Lua não! Do tamanho de Júpiter inteiro.
Sim, sim...
O barco roubou, um rombo do tamanho de Júpiter.
Alguém devia dizer pra ele parar.
Ele já pode parar, ele devia...
Eu vejo os braços cansados e dói até em mim!
Dói até em mim a cãibra no pulso, o tal do pulso que está cessando de pulsar que eu vi.
Mas ele pega o remo e revira e puxa e empurra e solta uns agudos esquisitíssimos quando não consegue simplesmente controlar a garganta.
Seria o meu herói, ele, se o furo fosse pequeno... se a gente tivesse durepoxi, massa corrida, sei lá!
Mas a gente não tem, e o furo... phew! O furo é enorme, simplesmente.
Eu vejo ele daqui, é uma janela pro fundo do mar!
Tão fundo, esse fundo do mar, que eu já nem sei.
Ele segura um remo em cada mão.
E a gente devia mesmo chamar de remo?
Já se gastaram tanto os instrumentos que agora mais se assemelham a patéticos gravetos.
Mas ele rema mesmo assim.
Ele remaria com as mãos, se só tivesse elas mesmo.
Mas pra que ia servir? O barco furou, todo mundo foi ao mar, todo mundo tá por aí correndo a longas braçadas (às vezes não tão longas assim!), todo mundo tá por aí salvando a pópria pele, todo mundo tá por aí se afogando, morrendo.
Mas todo mundo tá por aí.
Ele não tá, não.
Ele tá no barco, o barco que não vai nem pra frente e nem pra trás.
O barco que vai a cada segundo um milimetrinho mais pra baixo.
O barco que tem um rombo do tamanho da Lua!
Da Lua não.,.. de Júpiter.




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